Estágio: julho é o grande momento para agarrar uma oportunidade

Passado o carnaval, a Copa do Mundo e um semestre de inúmeros feriados, chega
julho, com as férias. Muitos estudantes já se animam com o prolongamento da vida
mansa que foi a primeira metade do ano e começam a planejar viagens e dias de
muita curtição. Mas, para os espertos, uma dica: não há momento melhor para quem
busca um lugar no mercado de trabalho.
 

O mês de julho registra, em média, um crescimento de 30% na oferta de vagas,
porque é um período em que as empresas estão fazendo substituições em seus
quadros de estagiários. E a demanda fica ainda maior porque muitos estudantes
convocados para assumir postos ou participar de entrevistas não comparecem, por
não quererem abrir mão das férias.

O momento vivido pelo Brasil também contribui para um aumento na demanda por
estagiários. Hoje, recuperado da má fase na economia, o mercado caminha no
sentido de restabelecer os índices pré-crise. De acordo com dados da Associação
Brasileira de Estágios Abres, o país deve encerrar 2010 com 1 milhão de
estagiários.

Embora o índice fique abaixo do registrado antes da crise 1,1 milhão já
há uma tendência de recuperação, com a ampliação em 15,5% no número de vagas,
com relação ao mesmo período de 2009.

A nova Lei do Estágio

Nesse contexto, é importante considerar um fator importante: a nova Lei de
Estágio, que entrou em vigor, justamente, no auge da crise econômica. Hoje,
prestes a completar dois anos, ela segue sob elogios e críticas.

De acordo com Ricardo Romeiro, gerente de estágios e desenvolvimento de novos
talentos do Instituto Euvaldo Lodi IEL o grande beneficiado foi o aluno,
embora ele ainda encontre dificuldades para conseguir uma vaga.

Romeiro elenca benefícios como direito a recesso de 30 dias, redução da
jornada diária e redução da carga durante o período de provas como pontos
positivos, para os estagiários, determinados na nova legislação. Mas ele chama
atenção para o baixo índice de estudantes que estagiam. O gerente ressalta que
menos de 5% dos alunos de ensino médio consegue estágio, e cerca de 14% dos de
ensino superior.

“Ficou mais difícil conseguir estágios”, afirma o estudante de Informática
João Batista. “Tenho meu currículo em vários bancos de vagas para estágio. Antes
da nova lei, eu recebia de duas a três ofertas por semana através das agências
de recrutamento. Após a nova lei, já passei alguns meses sem nenhuma proposta”,
diz João Batista. O estudante ressalta, no entanto, que “as poucas vagas que
surgem oferecem benefícios mais seguros e concretos que anteriormente”.

Para Ricardo Romeiro, o efeito negativo da nova lei incidiu mesmo foi sobre
quem contrata. “As empresas, que são as responsáveis por abrir vagas, precisavam
ter sido mais agraciadas. Houve um aumento da burocracia e dos gastos”, destaca
o gerente.

“As empresas que utilizavam o estágio como fonte de operacionalização dos
seus processos já não veem mais tantos benefícios em ofertar oportunidades de
estágio”, afirma Sabrina Binato Stangler coordenadora de seleção da
Link/ABRH-RS, empresa que recruta estagiários para empresas.

Viviane Furquim, gerente de gestão de pessoas do Sicredi, uma rede de
cooperativas de crédito, diz que não houve redução na contratação de estagiários
na empresa por conta da lei. Mas ela vê com reticência a redução da carga
horária. “Após esta alteração surgiram algumas reflexões sobre as vantagens e
desvantagens de se contratar um estagiário ou efetivo, em função do custo e
carga horária de trabalho”, afirma Viviane.

Segundo a gerente, “o ponto mais relevante da nova lei é que o estágio
necessita se vincular a um projeto pedagógico da instituição de ensino, fato que
exigirá um maior comprometimento do aluno, da instituição (de ensino) e da
empresa mantenedora do estágio”.

Luiz Gonzaga Bertelli, presidente Executivo do Centro de Integração
Empresa-Escola CIEE, destaca a ampliação da segurança jurídica dos contratos e
da participação da escola e dos agentes de integração no acompanhamento do
estágio como pontos positivos. “Com isso, a nova lei aprimorou o já enorme
potencial do estágio como fonte de atração e recrutamento de novos talentos”,
enfatiza Bertelli.

O presidente do CIEE acredita que a lei precisa de aprimoramentos e aponta
como exemplos a revisão da determinação da jornada máxima de seis horas para os
estudantes de ensino superior e a limitação dos estágios a, no máximo, dois anos
na mesma empresa.

Com relação a este último ponto, Ricardo Romeiro pensa diferente. “Já existem
projetos no intuito de alterar a lei. Alguns preocupam, porque pretendem, por
exemplo, aumentar o estágio de dois para três ou quatro anos, e isso já deixa de
ser estágio e vira emprego”, afirma o gerente do IEL.

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