Está oficialmente aberta a temporada de caça-talentos no Brasil, com o lançamento de programas de estágio para 2024. É no segundo semestre, especialmente a partir de setembro, que as empresas abrem seus programas de estágio em busca de recrutar e selecionar os estudantes mais preparados para uma temporada intensa de aprofundamento em conhecimentos dentro das funções corporativas e, quem sabe, estabelecer uma relação duradoura com um futuro profissional de grande sucesso.
O estágio está descrito na Lei nº 11.788/2008. “Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos”, descreve o primeiro artigo.
Portanto, para estar apto a vagas nesta modalidade, basta ter mais de 16 anos e estar regularmente matriculado em uma instituição de ensino. Essa possibilidade está atrelada ao desenvolvimento dos envolvidos, trazendo pontos específicos para facilitar a conciliação da vida pessoal, educacional e profissional.
Segundo dados do Inep/MEC, divulgados pela Associação Brasileira de Estágios (Abres), existem no Brasil – somando os níveis superior, médio e técnico – 17,2 milhões de possíveis estagiários. Porém, apenas 5,2% deles conseguem de fato estagiar.
Dos 9.6 milhões de alunos de ensino médio e técnico, apenas 214 mil estagiam, ou seja, 2,5%. Todavia, de acordo com o último Censo da Educação Básica do Inep/MEC, de 2022, existem no Brasil 7,8 milhões de matriculados no ensino médio. Na comparação com 2021, foi registrado um aumento de 96.138 alunos, isto é, 1,23%.
Descompasso entre demanda e oferta
O descompasso entre as expectativas dos candidatos e a oferta das empresas pode ajudar a entender esse fenômeno. A segunda edição da pesquisa “Radar das Juventudes”, que traz diversos dados sobre a “A vivência das juventudes em programas de estágio e trainee”, realizada pela Eureca – consultoria e plataforma digital especializada em recrutar e desenvolver estagiários e trainees -, revela quais ações os estagiários consideram que aumentariam as suas chances de efetivação. O plano de desenvolvimento individual (PDI) foi o mais citado, com 25,49%. Em segundo lugar, com 24,35%, foi apontado a mentoria com pessoas mais experientes da empresa e, logo em seguida, com percentuais menores, ficaram os treinamentos individuais com profissionais capacitados (18,5%), os treinamentos técnicos em grupo (11,78%) e os projetos de estágio (11,38%).
De acordo com o sócio da Eureca, Guilherme Ceballos, esse público prefere ser desenvolvido através de ações mais personalizadas e que proporcionem um acompanhamento a médio ou longo prazo, como o PDI e a mentoria, e não por treinamentos isolados ou em grupos.
“Quem está em posição de gestão, via de regra, tem uma visão em relação aos jovens de que eles querem crescer muito rápido e não tem apego. Ouvimos isso dos gestores e do RH. Na primeira edição da pesquisa, ouvimos os trainees. Mais da metade deles tinha a intenção de permanecer na empresa desde que ela tivesse um plano para ela. Quem está entrando no mercado de trabalho nasceu no início dos anos 2000 e pegou as crises de 2008, 2013 e a pandemia. Eles viram os pais perderem empregos, andaram mais apertados e têm uma visão mais realista do mercado. Na maioria dos casos, têm uma preferência pela segurança”, afirma Ceballos.
Talentos buscam estágios flexíveis
Por outro lado, dados da Infojobs – plataforma de oportunidades profissionais e busca de talentos – revelam que 95% das vagas ofertadas no Infojobs são para posições presenciais, ao mesmo tempo que outro levantamento aponta que 85% das pessoas mudariam de emprego por mais dias em casa.
Para a CEO da Infojobs, Ana Paula Prado, há um desalinhamento por parte das empresas – que lutam para encontrar um meio termo entre o que funciona para o colaborador e o que funciona em termos de negócio.
“Para atrair talentos, percebemos que as empresas estão apostando em oferecer estágios com um maior pacote de benefícios – como programas de saúde mental, planos de saúde com melhores coberturas, horários flexíveis, para compensar a necessidade do presencial, e até férias estendidas. A tecnologia aplicada no dia a dia acaba se tornando de grande ajuda neste sentido, já que podem ser realizadas pesquisas em tempo real para identificar as necessidades individuais e coletivas dos colaboradores. Os HCM (gerenciamento de capital humano) servem exatamente para isso, pois transformam as funções administrativas tradicionais dos departamentos de recursos humanos, impulsionam a produtividade, ajudam no engajamento e fazem a gestão de talento”, afirma Ana Paula Prado.
Programa de Estágio Grupo Águas do Brasil
E é pensando estrategicamente que o Grupo Águas do Brasil lançou o Programa de Estágio 2024. As oportunidades estão disponíveis para as concessões de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com inscrições abertas até 15 de dezembro. Em Minas, o grupo é a concessionária responsável pelo abastecimento da cidade de Pará de Minas, na região Centro-Oeste do Estado.
O programa é destinado a estudantes universitários e técnicos, com uma carga horária de seis horas diárias ao longo de um período de até dois anos. A empresa proporciona benefícios aos estagiários, incluindo bolsa-auxílio, vale-transporte e vale-refeição.
O objetivo, segundo a diretora de Gestão de Pessoas do Grupo Águas do Brasil, Luciana Reis, é que os estagiários vivenciem o “Jeito Águas de Ser”, que é a cultura da empresa de buscar constantemente a excelência e a inovação no setor de saneamento. E, para isso, é importante cuidar da formação dos gestores.
“Consideramos que o programa é uma porta de entrada para o grupo e, em média, efetivamos 30% dos nossos estagiários. Nosso objetivo é fidelizar porque estamos em um negócio com propósito. São dois momentos de entrada de estagiários ao ano. Mas isso não impede que as vagas sejam repostas ao longo do período. Nos preocupamos com a formação dos gestores para receber os estagiários. Primamos pelo ambiente de trabalho e respeito pelos estudos. Estamos sempre junto com os gestores para fazer um acompanhamento para que o estagiário não seja um apoio de luxo. No final ele tem que apresentar um projeto que possa ser escalável”, destaca Luciana Reis.