Fonte: Seesp |
Em 18 de agosto comemora-se o Dia do Estagiário. Para falar sobre a data, entrevistamos especialistas, gestores e estudantes.
De janeiro a março de 2021, segundo levantamento da Associação Brasileira de Estágios (Abres), foram abertas 254 mil novas vagas na primeira temporada de estágio do ano. Um número que já mostra recuperação, segundo o presidente da entidade, Carlos Henrique Mencaci, depois da crise sanitária causada pelo novo coronavírus (Covid-19). “Assim como todas as áreas, o estágio também foi afetado e chegou a ter uma queda de 92% das vagas em abril de 2020”, afirma, mas garante que o cenário vem melhorando nos últimos meses. Para tanto, ele cita o caso de junho último onde se observou “um crescimento de 9% se comparado ao mesmo mês em 2019, antes da pandemia”.
Mencaci explica que o mercado é muito dinâmico, por isso os dados segmentados por curso são mais difíceis de serem apurados. Contudo, prossegue ele, as modalidades de engenharia demandadas de forma mais permanente são “civil, produção, mecânica, elétrica e química, nessa ordem respectivamente”, informa. O presidente da Abres afirma que, entre os estágios que requerem o curso de nível superior, “14% são para engenharias”.
Em 18 de agosto celebra-se o Dia do Estagiário no País. A data foi estabelecida em 1982 pelo Decreto nº 87.497. Diversos cursos de graduação exigem o estágio, ou seja, ele faz parte do projeto pedagógico, cuja carga horária e orientações, como plano de estágio, relatórios e supervisões, são requisitos para aprovação e obtenção do diploma. No caso da engenharia, ele é obrigatório. Mesmo no não obrigatório, existe uma legislação específica que regulamenta a atividade. É a Lei 11.788, promulgada em 25 de setembro de 2008, que tem 22 artigos distribuídos em cinco capítulos. Nela, todos os deveres e direitos das partes estão bem definidos.
Para o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, “o estágio é parte fundamental da graduação de qualquer profissional e, especialmente, dos engenheiros”. Por isso, defende, é importante “a boa colocação nessa fase que antecede o início da carreira para que o estudante possa tirar o melhor dessa experiência, aprendendo e amadurecendo sob supervisão adequada”. A liderança, observa, no entanto, que “as empresas devem ter a responsabilidade de contratar estagiários para contribuir com sua formação, e não para substituir quadros já qualificados”.
A analista de treinamento do Núcleo Brasileiro de Estágios e Aprendizes (Nube), Skarlett Oliveira, ressalta o caráter educativo escolar da modalidade, que deve ser supervisionada. O estágio, ensina, é uma parte importante no processo de desenvolvimento e aprendizagem de um jovem, pois possibilidade ao estudante “vivenciar as matérias instruídas de forma teórica na escola ou faculdade na prática”. Mencaci endossa: “É uma chance [dos jovens estudantes] colocarem em prática os conteúdos aplicados em sala de aula e [o estágio] ainda garante o desenvolvimento de habilidades profissionais inerentes às suas carreiras.”
Oliveira recorre a dados da Abres para apresentar o número médio dos estágios no País: são 214 mil estagiários de ensino médio e médio técnico e 686 mil do superior. Todavia, lamenta a analista, o número de estudantes é muito maior em relação à oferta de vagas e a grande maioria não consegue uma oportunidade. “Temos 17,4 milhões de possíveis estagiários – 8.758.237 alunos de ensino médio e técnico e 8.450.755 no superior –, mas apenas 5,7% deles conseguem estagiar”, contextualiza.
Rodrigo Vianna, CEO da Mappit e do Managing Partner do Talenses Group, que também reforça a concepção natural de aprendizado, aponta que as “faculdades hoje estão exigindo uma vivência em estágio, algo que em muitos cursos do passado não era obrigatório”. Ele também concorda que a pandemia trouxe problemas, mas que foram sentidos em todos os níveis da organização, do estágio ao topo, diz. Mas também se mostra confiante na recuperação e acredita que as empresas “com culturas mais jovens apostam suas fichas na formação de pessoas, diante da falta de mão de obra em algumas áreas que o Brasil enfrenta como em tecnologia”.
Crescimento e desenvolvimento
Desde julho de 2006, a Companhia de Estágios oferece assessoria na contratação de estagiários, aprendizes e trainees. Em 14 anos de mercado, a consultoria afirma que já selecionou mais de 20.000 estagiários para as organizações parceiras, colaborando para que as empresas encontrassem os talentos que precisavam e para que esses estudantes conseguissem a tão esperada chance de crescimento e desenvolvimento profissional. Rafael Pinheiro, diretor comercial da recrutadora, verifica que o estágio tem servido ao propósito de alinhar teoria e prática. “Ele permite que o jovem desenvolva habilidades importantes para sua futura profissão o que pode ser determinante para escolha de qual área específica deseja atuar”, defende.
A Cia de Estágios, de acordo com o diretor comercial, trabalha com quatro mil vagas por ano e “tivemos 100 mil inscrições no primeiro semestre [deste ano]” e tem uma base de mais de 1,5 milhão de estudantes cadastrados. A pandemia também foi um ponto de inflexão, endossa Pinheiro. “Percebemos o congelamento das vagas por conta das incertezas geradas pela crise sanitária”, mas acredita que o mercado já vem reagindo. Um comportamento que Pinheiro atribui à adaptação das empresas “à nova realidade de trabalho remoto e entenderam que não fazia sentido abandonar os programas de estágio e de trainee”.
Isso fez com que as oportunidades represadas voltassem com força na já reta final de 2020, garante o diretor comercial. “Este ano, com a vacinação avançando, temos sentido um cenário mais favorável. Sei que ainda temos um longo trajeto a percorrer, mas estou otimista. Para mim, a largada rumo a um mundo do trabalho mais justo e interessante já foi dada. Felizmente, o caminho é sem volta”, projeta com grande entusiasmo.
No primeiro trimestre deste ano, a Cia de Estágios, informa, anunciou a abertura de programas de estágio das Amazon, AWS, Scania, Sanofi, Sírio Libanês, Goodyear, Tilibra, H.B. Fuller, Genomma Lab Brasil, UnitedHealth Group Brasil, Clariant, Marsh, Saint Gobain, Nitro Química, Alcoa entre outras. “Nossos clientes perceberam que é possível selecionar e desenvolver estagiários apesar do contexto de pandemia, usando soluções e recursos digitais.”
Oliveira, do Nube, reforça e faz um apelo: “Percebemos uma retomada nas contratações. Contudo, para aumentar as colocações, mais empresas deveriam investir nesses talentos e abrir novas oportunidades. Afinal, é um investimento na educação do próprio Brasil.”
O estágio pelos estagiários
Élida Pereira Matos, 24 anos, está no sexto ano de Engenharia Mecânica e participa do programa de estágio da companhia aérea Azul. Atuando na área de planejamento de manutenção, Matos diz que a experiência possibilidade “colocar em prática os conhecimentos adquiridos na faculdade e aprender algo novo todos os dias”.
Para ela, além das competências técnicas, o programa tem ajudado a desenvolver habilidades comportamentais no dia a dia e a se aproximar de outras realidades corporativas tão importantes no mundo atual, como a inovação e a sustentabilidade. A estudante descreve: “Participo, juntamente com todos os outros estagiários, do programa Gestão de Resíduos. Ele consiste em mapear e propor melhorias para a gestão dos resíduos gerados nas bases da Azul e, também, o descarte adequado desses materiais, causando menor impacto possível ao meio ambiente.”
O programa de estágio da Azul abrange, ainda, workshops de treinamentos, visitas técnicas e a elaboração de projetos com outras áreas da companhia. Ela elogia a oportunidade e aproveita para fazer um trocadilho com o setor da empresa: “O que me motiva ainda mais é perceber o quanto os valores da Azul estão alinhados com meus, tanto no aspecto profissional como pessoal. Sinto que esse estágio é a oportunidade da minha carreira decolar.”
Para o futuro profissional, Matos quer aplicar os conteúdos adquiridos tanto em sala de aula quanto nos estágios para se tornar uma profissional competente. “Quero contribuir para um futuro de avanços, inovação e automação, pois o mundo será bem diferente e quero ter uma participação efetiva na construção desse novo amanhã.”
O propósito educativo também aparece na fala da estudante de engenharia civil Marina Cantarelli Bimbati, 23 anos, que estagia na Andrade Gutierrez – empresa de engenharia que atua no setor de construção civil. “Está sendo uma experiência única de aproximação da engenharia acadêmica com a prática. Por estar em uma área que necessita de um olhar global das obras, o dia a dia é muito dinâmico e de muita aprendizagem.”
O estágio, descreve Bimbati, está possibilitando-a ter contato com engenheiros com atuações diversas, com “notória bagagem de conhecimento”, o que a motiva a se “desenvolver cada vez mais nos âmbitos técnico e comportamental”. Ela lembra de uma frase dita ainda no processo seletivo da empresa: “Se você não tem sede de aprender, a Andrade [Gutierrez] não será um match [combinação].”
Desde o ingresso no grupo, a palavra aprendizagem não sai do vocabulário dela. “A rotina me estimula a pesquisar novas formas de lidar com problemas e achar soluções eficazes. No âmbito pessoal, o programa proporciona uma base muito forte de apoio a todos os estagiários e ainda organiza diversos treinamentos. Esses abrangem temas ligados ao dia a dia da empresa com a realização de bate-papo com pessoas influentes em cada área com o intuito de desmitificá-las, e temas comportamentais como aprendizagem autodirigida e protagonismo de carreira.”
Formada, Bimbati quer ser uma engenheira que tem sede de aprender se espelhando, inclusive, no exemplo dos profissionais mais sêniores. “Em cada etapa da vida temos um desafio a ser superado. Percebo que a Andrade investe bastante para que os seus estagiários cresçam e se desenvolvam junto com a empresa. Isso é uma qualidade que nunca deve ser perdida e precisa ser reforçada dentro de qualquer empresa”, avalia.
As empresas e o estágio
A gestora do programa de estágio da Andrade Gutierrez, Vanessa Favareto, informa que, até hoje, já passaram 320 estagiários pelo programa com 51 ativos atualmente. Segundo ela, a experiência da empresa com os estágios é exitosa: “Ao mesmo tempo em que investimos na formação de novos profissionais, também aprendemos muito durante nossas interações com os jovens. O movimento de estimular a convivência entre diferentes gerações na organização é sem dúvida um dos grandes ganhos deste programa.”
O programa, descreve Favareto, está estruturado para atender às áreas corporativas e as entradas acontecem a cada seis meses. “Os estagiários são alocados nas áreas e os gestores ficam responsáveis pela supervisão direta, enquanto a área de Carreiras faz todo o acompanhamento do cumprimento da proposta do programa e suporta gestores e estagiários”, informa. Ainda como forma de impulsionar o desenvolvimento, os estudantes participam de 25 encontros cujo objetivo é apresentar o desafio de cada uma das áreas que compõem a estrutura da empresa, ampliando sua visão sistêmica e potencial de contribuição. “O programa ainda conta com a Avaliação de Desempenho periódica, que ajuda a direcionar o desenvolvimento do estagiário através de feedbacks, e o Estágio de Férias, que proporciona conhecer na prática os desafios das operações”, acrescenta a gestora.
Especificamente na área de formação de profissionais da engenharia, Favareto diz que é um dos grandes desafios da organização, “pois estamos em um movimento de crescimento e expansão dos negócios e o os novos talentos suportam o pipeline sucessório a longo prazo”, explica. Ela complementa: “A engenharia e construção é nosso core e 68% dos nossos estagiários são de engenharias relacionadas ao nosso negócio e este aspecto facilita bastante a efetivação do estagiário, seja nos escritórios ou nas nossas obras.”
O índice de efetivação, observa Favareto, é um indicador que a Andrade Gutierrez acompanha de perto e atua sempre na direção de elevá-lo. “Como sempre que um estagiário apresenta bom desempenho e não pode ser contratado na própria área, oferecemos o perfil dele com antecedência para outras áreas da companhia, buscando dar oportunidade para que todos os nossos estagiários possam ser efetivados”, finaliza.
A experiência da aérea Azul com os estágios também vem se desenvolvendo de forma positiva, conforme o gerente responsável pela área de Planejamento de Manutenção de aeronaves, Antonio de Jesus Vieira, que atua na Diretoria Técnica da companhia. “Damos muito valor ao estágio e ao estagiário, pois entendo ser um ótimo meio de desenvolvermos e prepararmos colaboradores efetivos. É um período em que temos a oportunidade de conhecer bem o perfil do futuro profissional e avaliar potencial. Reduz a possibilidade de erro na contratação”, observa.
Vieira informa que cinco tripulantes efetivos iniciaram na empresa como estagiários. “Eles já estão há um tempo conosco e desempenham cada um o seu papel com excelência. Temos ainda mais dois estagiários que foram efetivados e transferidos para nossa área de engenharia de aeronaves”, relaciona.
Direitos e deveres
O presidente da Abres observa que, como a modalidade não gera vínculo empregatício, existem alguns direitos para amparar esse jovem e permitirem, ao mesmo tempo, conciliar os estudos com a ocupação. As empresas nos diferentes tipos de estágio o não obrigatório, com valor extracurricular, e o obrigatório, formato curricular, estão normatizando o pagamento, em ambos os casos, de uma bolsa-auxílio, vale-transporte, recesso remunerado e o seguro contra acidentes pessoais.
Nos dois casos, esclarece Mencaci, a carga horária é limitada em seis horas diárias e 30 horas semanais, sem a possibilidade de realizar horas extras. “Afinal, o foco aqui não é apenas uma fonte de renda, mas sim a chance de aproveitar em sincronia o melhor dos aprendizados acadêmicos com a prática corporativa”, observa, reforçando que “o estágio é um tempo de treino e experiência corporativa”.
Por outro lado, ainda conforme o presidente da Abres, para impulsionar essa contratação, as empresas ficam livres de pagar encargos trabalhistas, tais como o FGTS, INSS, 1/3 sobre férias, 13º salário e eventual multa rescisória. Mas o principal, assegura Mencaci, é que “quem contrata ganha a possibilidade de moldar o talento de acordo com a cultura da organização, formar líderes, contar com a energia e a vontade de aprender”. O site oficial da Abres mantém um espaço com as principais dúvidas sobre a modalidade, que você pode conferir aqui.
Para assegurar que o estágio não ultrapasse os limites legais, o Nube, diz Oliveira, trabalha como um agente de integração, fazendo a intermediação entre empresas, estudantes e instituições de ensino. “No momento de abertura de vagas, conscientizamos as organizações sobre o estágio e, inclusive, reforçamos a não permissão em exigir experiência nessa divulgação. Afinal, é um ato de aprendizagem e desenvolvimento”, reforça.
Orientação à carreira
A área Oportunidades na Engenharia, do SEESP, mantém uma plataforma de vagas exclusivas para estudantes e profissionais de Engenharia, atualizada semanalmente. Além disso, também tem atendimento primoroso de orientação à carreira para quem quer entrar no mercado, fazer transição profissional ou outras demandas relacionadas ao posicionamento profissional. Confira aqui todos os serviços oferecidos.