Na última segunda-feira (29), Marli Lima Gomes, estudante do curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) e ex-auxiliar de Serviços Gerais (ASG), defendeu sua monografia, um dos últimos passos da graduação. A jornada, que se iniciou com limpeza dos corredores e salas de aula da instituição, levou-a à sua formação acadêmica.
Dados da Associação Brasileira de Estágios (Abres) apontam que a população de estudantes de ensino superior no Brasil, no ano de 2002, era de apenas 3,5 milhões de um total de 179,5 milhões de brasileiros. Este indicativo demonstra que a maior parte da população não tem acesso à formação completa.
Esta era também a realidade de Marli Lima Gomes, que somente aos 26 anos concluiu o ensino médio e apesar da vontade de seguir estudando, encontrou dificuldades e precisou seguir para o mercado de trabalho, sem ingressar em uma universidade. Marli adquiriu uma nova perspectiva em 2013, quando passou a integrar o grupo de Auxiliares de Serviços Gerais da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Enquanto desenvolvia as atividades de limpeza do Campus Imperatriz, Marli sentiu-se motivada a cursar o ensino superior, uma realidade que antes parecia distante, agora estava mais próxima. Com o passar do tempo e a vivência dentro da universidade, Marli decidiu conciliar a rotina com os estudos para vestibular e encontrou apoio no trabalho. “Eu sou muito grata pelos professores da instituição, todos sempre se dispuseram a me ajudar. Tem professor que me dava aula para eu passar no vestibular, porque eu não tinha condição de pagar um cursinho e eles sempre procuraram me ajudar”, relata Marli.
Ao ser aprovada no vestibular, Marli iniciou a vida acadêmica enquanto seguia trabalhando na universidade como ASG. Somente em 2019, após seis anos de trabalho, deixou as atividades e passou a dedicar-se integralmente aos estudos. Marli foi monitora de disciplina na UEMASUL durante 4 meses, e participou do projeto de Residência Pedagógica por um ano e meio.
Atualmente é estagiária na universidade e coloca em prática o conhecimento adquirido durante a graduação.
A reitora da UEMASUL, Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves, celebrou a conquista da estudante.
“Histórias de vida como a de Marli servem para demonstrar o poder da educação e provam ainda a importância da UEMASUL no desenvolvimento da Região Tocantina. Estamos aqui realizando sonhos por meio da democratização do ensino superior, gerando oportunidades. Este momento é de muito orgulho para todos que acompanharam a trajetória de Marli”, disse.
Avanços – Em sua vida, Marli foi impedida de avançar mais cedo nos estudos por dificuldades impostas pela falta de acesso à educação. No local onde morava, Altamira do Maranhão, o ensino fundamental era ofertado apenas até a 4ª série (atual 5ª ano). Somente aos 21 anos de idade, quando mudou-se para Imperatriz, conseguiu prosseguir estudando, concluiu o ensino fundamental na modalidade de supletivo e posteriormente concluiu o ensino médio, aos 26 anos de idade.
Para Marli a dificuldade enfrentada na infância foi convertida em incentivo.
“Meu interesse pela pedagogia partiu da minha história de vida porque a minha mãe era professora lá do interior no qual morávamos, só que minha mãe não tinha formação, por isso ela só ensinava até a quarta série. Eu sempre me espelhei na minha mãe por ver ela cuidando das crianças, quando eu vim pra cidade fiquei sabendo que o curso de Pedagogia dá essa oportunidade de trabalhar com crianças, então ingressei quando tive oportunidade de fazer o vestibular”, destaca.
Marli agora pertence a outra estatística, está entre os 8.450.755 de brasileiros que estão cursando o ensino superior, de acordo com a Abres. Em breve, com diploma em mãos, estará entre as pessoas que conseguiram romper o ciclo social da pobreza e com persistência derrubaram barreiras para concretizar sonhos.