(Fonte: Folha Dirigida)
Você já pensou em fazer parte de uma carreira digital? Diante do momento atual, com os reflexos da pandemia, elas têm surgido com uma alternativa para muitas pessoas. E, na verdade, acabarão virando as carreiras do futuro.
Principalmente para o jovem, que, segundo dados do IBGE, amarga taxas de 27,1% de desemprego.
O que deve piorar ainda mais diante da crise econômica agravada pela situação da saúde pública, segundo o presidente da Associação Brasileira de Estágios (Abres), Seme Arone Júnior.
Nesse panorama, as carreiras digitais podem representar sim um meio para entrada no mercado de trabalho. Isso porque, atualmente, há diversos cargos vagos na área, que tem poucos profissionais especializados.
Diante disso, o jovem, acostumado desde cedo com as novas tecnologias e a “cultura online”, pode ter mais chances.
1. Como começar uma carreira no cenário atual?
Seme Arone Júnior afirma que, além dos problemas diante do momento atual de crise, a falta de acesso à educação, para muitos brasileiros, é outra questão que dificulta a entrada do jovem no mercado de trabalho.
No Brasil, a maioria dos estudantes precisa trabalhar para pagar a faculdade. Sem uma colocação, muitos desistem dos estudos por falta de condições financeiras e, assim, não conseguem se qualificar para terem mais portas abertas na carreira, afirma o presidente da Abres.
Uma iniciativa da instituição diante disso é incentivar empresas a continuarem contratando estagiários, mesmo nas condições atuais, visto que os estagiários podem fazer home office, de acordo com a Medida Provisória 927/2020.
Segundo Seme Arone, manter isso é fundamental para que o jovem continue tendo experiência e empregabilidade, podendo também financiar seus estudos com auxílio da bolsa do estágio.
“O estágio é de fundamental importância, pois proporciona a oportunidade de o participante vivenciar todo o conteúdo teórico aprendido em classe. Ainda é possível entender o funcionamento de uma empresa e verificar com quais áreas mais se identifica”, completa.
Na experiência também pode desenvolver melhor suas competências pessoais e habilidades, aumentando a chance de efetivação de 40 a 60%, de acordo com Seme Arone Júnior.
Alguns setores com vagas de trabalho no momento da pandemia são:
- Tecnologia
- Alimentação
- Saúde
2. Como se preparar para entrar no mercado de trabalho diante das mudanças tecnológicas?
As mudanças por causa das novas tecnologias já são realidade. Se você ainda não está preparado, é hora de ligar o alerta se não quiser ficar para trás. Por que eu digo isso?
Você sabia que, segundo pesquisa do Instituto McKinsey, até 800 milhões de funções podem ser extintas por causa das inovações tecnológicas nos próximos 10 anos?
Diante disso, a palavra-chave é reinvenção. E não só em relação às carreiras novas, mas às tradicionais também.
O trabalho do futuro pede mais criatividade, tomada de decisões e novas ideias. A dica é refletir sobre quais são suas habilidades comportamentais e como elas podem ajudar você a entrar nesse mercado. É preciso fortalecê-las agora.
E se você achou que a tecnologia pode atrapalhar, a verdade é que ela pode ser sua maior aliada nesse momento.
“É preciso pensar de quais formas nos diferenciamos das máquinas, quais são as ações e estratégias capazes de serem desenvolvidas apenas pelos humanos. Esse é o detalhe decisivo para os futuros profissionais”, afirma Seme Arone.
No caso de jovens, ele indica algumas ferramentas básicas de tecnologia que devem ser conhecidas:
- Planilhas eletrônicas
- Editores de texto
- Sistemas de teleconferências
- Softwares de apresentações
3. O que fazer para se destacar na busca por um emprego em um cenário digital?
Entre alguns pontos necessários para a pessoa se destacar nesse meio, Seme Arone Júnior afirma que um currículo atraente, recheado de cursos, especializações e experiências é fundamental.
Mas não é só isso que é procurado nos candidatos que buscam uma carreira digital. Ele afirma que as competências relacionadas ao comportamento, ou seja, as soft skills, passaram a ser um ponto cada vez mais analisado também entre os recrutadores.
Imagine a situação: um gerente de engenharia altamente habilitado tecnicamente, porém, com dificuldade de se relacionar com seus pares e liderados, sem capacidade de resolver conflitos de forma madura e equilibrada, exemplifica o presidente da Abres.
A consequência dessa falta de habilidade é maior insatisfação entre os funcionários, tensão nas equipes e baixa produtividade.
A recomendação é, além de corresponder bem ao seu trabalho, desenvolver um bom relacionamento interpessoal, comunicação, pensamento crítico e empatia. “Esses são os fatores os quais nos diferenciam dos robôs!”, completa.
Por outro lado, os conhecimentos técnicos, ou hard skills, podem ser aprendidos com a prática do dia a dia.
No final das contas, é preciso fazer uma autoanálise para compreender quais pontos que você precisa melhorar.
4. Quais habilidades são necessárias para começar uma carreira digital?
Ter conhecimento sobre as tecnologia é fundamental para uma carreira digital. Mas, segundo Seme Arone, é importante que os profissionais tenham inteligência emocional e sejam capacitados para conseguirem trabalhar de maneira integrada às inovações.
E desenvolver as soft skills, como afirmado mais acima, é fundamental para isso. A tendência é que isso seja cada vez mais procurado entre os candidatos.
As principais soft skills para as carreiras são:
- Comunicação eficaz
- Pensamento criativo
- Resiliência
- Empatia
- Capacidade de liderança
- Ética no trabalho
“Tratam-se de habilidades subjetivas, ligadas à inteligência emocional, normalmente adquiridas por meio de vivências pessoais. Portanto, vale a pena estudar esses temas e observar como você tem desenvolvido e pode aprimorar esses pontos em seu dia a dia”, explica Seme Arone Júnior.
A tendência é que os recrutadores busquem por candidatos com flexibilidade, iniciativa, foco no resultado e boa capacidade de comunicação a distância, isso levando em consideração a digitalização dos negócios e o home office.
5. Quais novas profissões que devem atrair mais jovens?
Seme Arone indica que as principais profissões do futuro terão grande relação com a tecnologia e isso é um ponto positivo para você que quer fazer parte de uma carreira digital.
O que é reforçado por um estudo da empresa de tecnologia Cognizant. Segundo o relatório, as principais profissões serão:
- Auditor de viés algoritmo: é responsável por monitorar cada elemento de Inteligência Artificial utilizado em chatbots (programa de computador que simula conversa com um ser humano).
- Etnógrafo de dados: utiliza os dados para contar uma história sobre como os consumidores interagem com sua marca. O profissional deve encontrar os dados corretos e extrair o melhor deles para melhorar a experiência do consumidor.
- Planejador de missão e valores: auxilia os clientes a definir e articular suas contribuições para a sociedade e seus propósitos para consumidores e funcionários.
- Neurotestador A/B: elabora relatórios sobre a atividade cerebral de consumidores quando eles entram em contato com a marca durante campanhas físicas.
- Engenheiro de lealdade: identificam as necessidades de clientes e utilizam para criar tutoriais online, eventos, oportunidades exclusivas e adaptações aos programas de fidelidade tradicionais.
- Gerente de humor e empatia: importante para indústrias de varejo, analisa a situação de interação do cliente com a marca, qualificando as emoções envolvidas para propor estratégias para atingir a experiência ideal.
- Designer de feedback e avaliações: esse profissional cria, testa e ajusta os mecanismos de Inteligência Artificial que captam os feedbacks do cliente, para converter em melhorias na jornada de consumo.
Mesmo assim, o profissional afirma que muitos destes novos cargos estão surgindo ligados a uma característica dos jovens em busca de emprego, que é unir a carreira a um propósito.
“Para eles, ficar muitos anos na mesma corporação e fazer plano de carreira não são mais as prioridades. A grande questão é realizarem uma profissão com sentido, alinhada com seus valores pessoais”, afirma.
6. O que o jovem precisa saber para entrar em uma carreira digital?
O primeiro passo para entrar em uma carreira digital é saber se você se identifica com a área. Afinal, de que adianta entrar para uma carreira, você não gostar e ter que mudar tudo de novo?
Um fato é que isso pode acontecer, pois estamos em constante mudança. Mas para amenizar isso, você pode fazer testes vocacionais e conversar com pessoas que já atuam nesse campo.
O segundo passo é entender as dificuldades e desafios do setor. Tudo na tecnologia acontece em ritmo acelerado, constantemente há alguma novidade. A questão aqui é saber se você tem o perfil para acompanhar isso.
Se sim, o próximo passo é participar de eventos e procurar estágios ou aprendizagem em empresas do setor. Dessa forma, você pode identificar melhor se essa carreira pode ser a ideal para você com esse primeiro contato.
Fazer estágio é um meio para analisar como é a prática nesta carreira. Isso porque, caso você não goste de determinado setor, ainda está cedo e pode trocar com mais tranquilidade, se for possível, claro.
A dica é começar o estágio cedo para ter contato com a sua profissão e entender se traz prazer e realização para você.
7. O que muda no comportamento do jovem na busca por um emprego?
O jovem que vai entrar no mercado em um futuro próximo busca cada vez mais pelo propósito. São cheios de ideias, vontade e, acima de tudo, buscam por profissões e empregos nos quais sentem que são apaixonados.
E isso está se refletindo mais nessas empresas que estão surgindo diante das novas tecnologias e também nas tradicionais. É possível perceber que estão buscando mostrar mais seus valores e atrair candidatos que se identifiquem com sua missão.
Segundo Seme Arone, as novas gerações, que cresceram em um ambiente digital, têm um perfil muito particular.
As novas gerações têm um perfil muito particular e desafiador para as empresas. Não gostam de controle, burocracia e rotina. Por isso, procuram opções de trabalho flexíveis, com opção de home office, horários ajustáveis e, especialmente, um ambiente engajador atrelado à sua visão de mundo, indica o presidente da Abres.
Outro fator importante para essa nova geração, é a necessidade de um acompanhamento, com dicas de desenvolvimento, feedback e treinamentos para aperfeiçoamento.
São perfis que anseiam sempre um desafio e que precisam sentir que estão se desenvolvendo em diversas frentes, como na comunicação, tecnologia e responsabilidade social.
“Os jovens, quando descobrem esse diferenciais, seja por meio de seu network ou nas informações digitais disponíveis na Internet sobre essas corporações, ficam atraídos pelas vantagens”, finaliza.