Estágio para ensino técnico é subaproveitado no Brasil

Estudante perde, e empresa também

A falta de estágio durante o curso técnico é desvantagem tanto para o estudante quanto para a empresa. Para o jovem, é uma porta de entrada mais fácil para um emprego e a possibilidade de aprender, de praticar e de se acostumar com o dia a dia do trabalho.

Para as empresas, além dos descontos nos impostos, é a chance de moldar o estudante de acordo com as suas necessidades, de treinar um futuro profissional. “Sem estagiar é difícil ter experiência e aí a chance de um estudante recém-formado ficar sem emprego é grande”, diz o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Estágio (Abres), Mauro de Oliveira.

Dentro das vagas de estágio ofertadas, alguns cursos levam vantagem. De acordo com a analista de educação do Senac, Deise Regina Bora, existem muitas vagas para o técnico em Radiologia e técnico em Enfermagem. No IFPR, os que mais conseguem vagas são dos cursos de Saúde Bucal, Enfermagem e Contabilidade. Já os com mais dificuldade de colocar estudantes nas empresas são os de Processo Fotográfico, Áudio e Vídeo e Informática o último mais por incompatibilidade de horários do que por falta de oferta.

Para os cursos que exigem o estágio curricular, é mais fácil, já que geralmente a instituição de ensino tem convênio com as empresas, como ocorre no Serviço Nacional do Comércio (Senac-PR).

O estágio para o ensino médio técnico, instrumento de introdução do jovem no mercado de trabalho, é pouco usado no país. Hoje, do 1,3 milhão de estudantes matriculados em cursos profissionalizantes, só 42,5 mil jovens estagiam. Mesmo com a expansão dos cursos técnicos que têm como objetivo garantir emprego rápido por causa do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), não há grande interesse das empresas e nem dos estudantes em estabelecer o vínculo.

O efeito disso é a falta de vagas nas cidades menores e a sobra delas nos grandes centros. No interior do Paraná, que teve o número de cursos técnicos aumentado pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR) há cursos em 13 cidades, além de Curitiba não há oferta de estágio suficiente por parte das empresas para absorver os estudantes. O pró-reitor de extensão do IFPR, Silvestre Lapiak, explica que nas cidades menores não existe ainda uma cultura do estágio, de investir num estudante sem experiência para contratá-lo no futuro.

“O ensino técnico foi interiorizado em todo o país, principalmente com a criação dos institutos federais, mas nas cidades menores as empresas são essencialmente de pequeno e médio porte e não estão preparadas para o estágio”, diz Lapiak. Nos grandes centros, como Curitiba, a oferta é bem maior e chega a ser o dobro da soma de cinco cidades do interior. Mesmo assim, a parcela de estudantes que estagia é pequena. No IFPR, apenas 20% dos estudantes estão em alguma empresa.

Falta de interesse

A baixa ocupação de vagas não está relacionada apenas com pouca oferta, mas com a falta de interesse dos estudantes. Nem todos exceto pelos que que fazem cursos em que o estágio é exigido pelo currículo querem aplicar os conhecimentos antes de se formar. Muitos deixam para bater na porta das empresas depois de ter o diploma em mãos. No Instituto Euvaldo Lodi (IEL), somente 25% das vagas, em média, são preenchidas.

Mesmo para os que desejam um estágio, há outro impedimento: o horário. Segundo o gerente executivo do IEL, Eduardo Vaz da Costa Júnior, muitas vezes ele é incompatível com a grade horária do estudante. “Geralmente as empresas querem o estagiário por seis horas, mas muitos cursos oferecem aulas à tarde ou em período integral. A solução seria as empresas tornar o horário mais flexível”.

Bolsa

Outro fator que afasta o estudante do curso técnico do estágio é a bolsa de pesquisa comum na graduação , que agora são ofertadas também para o ensino médio técnico. Entre conciliar as horas de estudo com as de trabalho no estágio ou apenas estudar e receber para isso, alguns optam pela segunda opção e dispensam a experiência prática. É o caso do estudante Carlos Venturo Ronchi, 17 anos, que concluiu no ano passado o curso técnico em Mecânica. Ele entrou para o grupo de pesquisa no último ano do curso e por isso deixou de lado o estágio, embora tenha procurado vaga por alguns meses. “São muitas as vantagens da pesquisa. Achei mais interessante que um estágio e mais fácil do que buscar uma vaga em uma empresa”, conta.

Lei de Estágio

A alteração na Lei de Estágio (11.788/08), que entrou em vigor em 2008, também atrapalhou a contratação de estudantes. Por estabelecer regras como recesso remunerado, limite de trabalho de seis horas por dia e auxílio transporte, houve certa resistência das empresas em manter o ritmo de contratações. Por isso os números caíram a partir dessa data.

O diretor de comunicação da Associação Brasileira de Estágio (Abres), Mauro de Oliveira, explica que o gasto com as novas regras não passaram de 8% para as empresas, mas houve insegurança ao contratar estagiários. “O ritmo voltou ao normal depois, mas ainda há resquícios da lei”, comenta. Ela também coloca limites quanto ao número de estagiários por empresa, menos para os cursos técnicos.”

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