Mesmo atendendo a todos os requisitos da vaga, a estudante de Educação Física da
UnB (Universidade de Brasília) Paula Meira Diniz, 25 anos, não foi aceita no
processo seletivo de estágio da prefeitura de sua cidade. A receptividade
inicial dos recrutadores no ato da candidatura perdeu força a partir do
preenchimento do cadastro e da descoberta de que, ao invés de matriculada num
curso superior presencial, fazia parte de uma turma a distância. Ela não
conquistou a vaga sob a alegação de pertencer a uma instituição pública e,
portanto, ter menos necessidade de estágio remunerado.
A baixa receptividade de seu currículo, no entanto, não se restringiu ao
órgão publico. Em um ano de procura, ela não foi chamada para nenhuma entrevista
de estágio. “Quando optei por um curso a distância já sabia dos preconceitos que
a modalidade enfrentava, mas foi só após o meu desemprego que pude perceber o
tamanho da desconfiança em relação ao sistema de Ensino”, diz Paula. Para
driblar o desemprego, a estudante de Educação Física decidiu concorrer a uma
vaga pública de nível fundamental. “A esperança é que até a minha formatura esse
preconceito seja banido”, garante.
A legislação brasileira, no entanto, preserva o direito de estudantes de
ensino a distância terem a vivência profissional como complemento à formação
acadêmica. É o que assegura Seme Arone Junior, presidente da Abres (Associação
Brasileira de Estágios). Porém, a Lei 11.788/08 restringe o benefício a alunos
regularmente matriculados em instituições reconhecidas pelo MEC (Ministério da
Educação). “O texto da antiga norma não previa a modalidade a distância, mas com
a mudança não há como ter dupla interpretação, tampouco subentendimentos”,
garante ele.
Segundo Ricardo Holz, presidente da ABE-EAD (Associação Brasileira dos
Estudantes de Ensino a Distância), os direitos dos alunos da modalidade também
são preservados pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases). Além de incentivar o
desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância em todos os
níveis, garante a igualdade aos diplomas de cursos presenciais. Na opinião dele,
os amparos legais têm diminuído as diferenças existentes no mercado de trabalho.
“A qualidade da educação a distância comprovada pelos indicados do MEC e pelo
bom resultado desses profissionais em concursos públicos tem propiciado o
reconhecimento da modalidade por parte dos empregadores”, diz.
A resistência na contratação, de acordo com Holz, está vinculada ao
desconhecimento, por parte dos gestores, acerca do sistema de educação a
distância brasileiro. “O problema é ainda mais evidente em cidades menores. Nas
capitais, os casos de preconceito são mais frequentes no setor público. A
discriminação é comprovada, inclusive, nos editais de convocação”, enfatiza.
Mesmo assim, ele acredita que as oportunidades de estágio para os estudantes de
educação a distância são reais.
É o que comprova Viviane Aparecida da Silva Campos, 32 anos, estudante do
segundo semestre do curso a distância de Pedagogia. Ela não só conseguiu a
oportunidade de estágio, como também venceu a concorrência de 40 candidatos por
vaga. “Para ingressar no programa da prefeitura de São José dos Campos não
enfrentei nenhum tipo de dificuldade. Como os demais candidatos, tive que fazer
uma prova com questões de língua portuguesa, matemática e conhecimentos gerais”,
conta. Com 7,5 pontos, garantiu o segundo lugar no concurso.
Concorrência acirrada
Os estudantes de cursos a distância assim como aqueles que optaram pelo
sistema de Ensino presencial precisam vencer a concorrência do mercado de
estágio que, segundo dados da Abres, deixa 87% dos alunos de fora do mercado de
trabalho. Assim, dentre 5.080 milhões de brasileiros com acesso ao Ensino
Superior apenas 650 mil têm a oportunidade de vivenciar na prática os
conhecimentos da universidade. “Nessa disputa vencem os melhores candidatos, a
partir de critérios que não são e nem podem ser determinados a partir da
modalidade de Ensino”, garante Arone Junior.
Ganham destaque na disputa, segundo o presidente da Abres, estudantes que
tiverem domínio da língua portuguesa, bom raciocínio lógico, conhecimentos
avançados em um segundo idioma e domínio em informática. “As habilidades
comportamentais também são avaliadas e, muitas vezes, mais valorizadas do que as
competências técnicas”, relata Arone Júnior, que cita a pró-atividade como uma
das características apreciadas pelos recrutadores.
Nesse quesito, Eder Polizei, coordenador de graduação a distância da
Universidade Metodista, acredita que os estudantes de educação a distância tende
a sair em vantagem. “Além dos alunos serem, na maioria das vezes, mais maduros,
o Ensino a distância exige mais organização, iniciativa e disciplina”, aponta.
Segundo ele, profissionais com esse perfil são mais valorizados pelo mercado de
trabalho.
Em contrapartida, exige-se ainda dos candidatos boa comunicação intrapessoal
e facilidades para trabalhos em equipe, habilidades pouco desenvolvidas entre os
estudantes dessa modalidade. “O que importa, no entanto, não é o formato do
curso, mas sim a construção individual de cada estudante”, afirma Lucia Maria
Martins Giraffa, coordenadora da PUCRS Virtual – programa de educação a
distância da PUCRS (Pontifícia Universidade católica do Rio Grande do Sul).
Foi a partir desta complementaridade que Gabriela Orazem Ramos Machado, 22
anos, estudante de Administração do curso a distância da UFRRJ (Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro), conseguiu, logo no primeiro ano da graduação,
uma oportunidade de estágio em sua área de formação. “As vagas existem, basta
procurá-las”, garante ela que, em menos de dois meses de estágio, teve a chance
de ser efetivada. “Num primeiro momento, os recrutadores, ao saberem que sou
estudante de educação a distância, ficaram assustados. Mas, ao explicar a
modalidade e apresentar minhas competências, o preconceito foi deixado de lado”,
explica ela.
Para vencer a restrição inicial dos recrutadores, Gabriela conta que optou em
omitir a modalidade do curso superior em seu currículo. “Se descrevesse no
documento que a graduação é a distância, talvez as empresas nem me chamassem
para a entrevista”, revela. “É uma forma de permitir aos selecionadores me
conhecerem antes de me eliminarem pelo tipo de curso que faço”, completa ela.