Ao contrário de concorrer a uma vaga em programas de estágio e
trainee no mercado, Paulo Alves de Almeida Júnior, estudante de
Ciências Biológicas da USJT (Universidade São Judas Tadeu), decidiu
atuar dentro do próprio campus. Mesmo sem nenhuma remuneração, a
oportunidade se tornou atrativa pela facilidade de locomoção. Ele não
tem de se preocupar com atrasos e nem com trânsito, não precisa sair
correndo do trabalho, pegar várias conduções para ir à faculdade.
Vantagem que, segundo o rapaz, também se alia ao reconhecimento da
experiência tanto para o ingresso futuro no mercado de trabalho, quanto
na vida acadêmica.
“Apesar de não ser uma garantia de emprego depois de formado,
o estágio na faculdade me dará subsídio para conseguir uma boa
oportunidade na área de botânica – segmento que mais me identifico
dentro das Ciências Biológicas”, diz Almeida Júnior. Na opinião dele, o
contato mais próximo com os professores por meio do estágio caseiro
pode ampliar as chances de ingresso no ambiente acadêmico e
empresarial. Ele não teme que o isolamento na faculdade possa gerar
problemas no seu futuro profissional “Nem sempre o professor dá aula
numa só universidade. Além disso, ele normalmente tem contato com
professores de outras instituições, o que facilita na hora de conseguir
uma indicação para outro estágio ou até mesmo uma vaga de emprego”,
aposta o estudante.
As oportunidades relatadas por Almeida Júnior também são
reconhecidas por Seme Arone Júnior, presidente da Abres (Associação
Brasileira de Estágios). Para ele, não há desvantagem do estágio
universitário em relação àqueles realizados no mercado. De acordo com
ele, ambos propiciam a união entre a teoria vista em sala de aula e a
prática do dia a dia profissional. “Ainda que não tenha remuneração,
essa vivência no estágio – independente de seu local – é muito
importante para o enriquecimento profissional desse estudante”, afirma
Arone Júnior.
Mas para o presidente da Abres, o leque de opções e de contatos
para futuras possibilidade de emprego fora da universidade se ampliam
de acordo com as atividades desempenhadas pelo estudante. “Caso consiga
estagiar num setor que tenha um relacionamento mais próximo com outras
empresas, maiores serão os ganhos”, acredita ele, que faz também uma
ressalva, o estudante que se mantiver isolado da sua área por causa do
estágio na faculdade, corre risco de se prejudicar num futuro próximo,
quando tentar arrumar trabalho fora da instituição em que estuda.
O risco de acabar isolado do mercado pode ser revertido, a
depender da postura do estudante. Jaqueline Silveira Mascarenhas,
coordenadora do Ibmec Carreira MG (Faculdade IBMEC de Minas Gerais),
destaca a possibilidade das próprias instituições indicarem seus
estagiários a empresas parceiras. A indicação, no entanto, segundo ela,
depende dos rendimentos dos estudantes na função.
Para os casos em que o estágio oferecido pela universidade não
seja remunerado, Arone Júnior sugere que o estudante procure,
paralelamente, outra oportunidade de emprego. Seja ela para suprir a
ausência do ganho financeiro ou mesmo para ampliar as experiências e
aprendizados. Entretanto, há universidades que em troca dos serviços
prestados pelo aluno oferecem bolsas-auxílios nos padrões das grandes
empresas ou mesmo bolsas que cobrem integral ou parcialmente os valores
da mensalidade.
De acordo com Maria Ester Pires da Cruz, gerente do Núcleo de
Desenvolvimento de Carreira do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa),
o estudante deve ter dentro da universidade a mesma dedicação que teria
num emprego numa empresa. Embora estagiar dentro da própria faculdade
pareça ser mais fácil e possa despertar certo comodismo, ela adverte:
“o estágio dentro da faculdade é igual às oportunidades que existem
fora, pois nesse processo o estudante aumenta seu repertório para
decidir qual área gostará de seguir”, argumenta.
Linda Betina Herrera, estudante do último ano do curso de
Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul), viveu as duas situações e afirma que trabalhar na faculdade pode
ter tantos benefícios quanto um emprego fora dela. A estudante conta
que no caso de seu curso, os alunos devem passar por um estágio
obrigatório de dois anos, cada um numa área diferente. “No meu primeiro
ano de estágio, passei pela Clínica Escola no SAPP (Serviço de
Atendimento e Pesquisa em Psicologia), dentro da própria faculdade, na
linha Psicanalítica. Atualmente, estagio na área de recursos humano de
uma distribuidora de medicamentos”, explica a estudante. Na visão de
Linda, a oportunidade oferecida pela universidade teve benefícios
únicos e consideráveis como, por exemplo, amparo recebido dos
professores. Algo que não teria numa empresa comum.
Quadro de vagas
As oportunidades de vagas de estágio no Ensino Superior brasileiro não
se restringem às áreas administrativas. De acordo com Arone Júnior, as
áreas mais comuns para esse tipo de vaga são as de tecnologia,
fisioterapia e psicologia. “Além dessas áreas mais específicas, cursos
de direito e engenharia, por exemplo, também têm espaço para seus
alunos dentro da universidade”, acrescenta ele.
O presidente da Abres expõe ainda que os universitários podem tentar
uma chance nas empresas juniores. “Hoje, essas empresas juniores
existem em várias universidades e são uma excelente oportunidade para
os estudantes. As grandes empresas dão muito valor para universitários
que participam de atividades extracurriculares e acadêmicas. Essas
atividades não são classificadas como estágio, mas propiciam boa fonte
de relacionamento e desenvolvimento. E se o aluno se destacar, pode ser
indicado para um estágio”, declara Arone Júnior.
Para os alunos que buscam uma oportunidade de estágio, Maria Ester
recomenda maior atenção ao quadro de vagas da própria instituição. Mas
para pleitear uma das oportunidades dentro do campus, os alunos não
serão necessariamente isentos dos processos seletivos. “Em alguns
casos, os candidatos passam por dinâmicas de grupo e entrevistas”,
compara ela.
Os caminhos percorridos por Almeida Júnior e Linda ilustram
bem as diferenças nos processos seletivos dentro das faculdades.
Enquanto Linda passou por um processo seletivo para conquistar a vaga
de estágio na PUCRS, o ingresso do estudante da São Judas foi
diferenciado. “Meu grupo apresentou um projeto para o orientador do
SIMCIBIO (Simpósio de Ciências Biológicas) que realizaremos este ano,
sobre germinação e recuperação de áreas degradadas. Como não
trabalhava, o orientador, que também é o coordenador de estágio, propôs
para que realizasse meu estágio com o mesmo tema do projeto”, explica
Almeida Júnior.
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