Após retração, setor de estágios ensaia reação

Crise econômica e nova lei afetaram o crescimento do setor


Há seis meses o setor de estágios no Brasil passava por grande
transformação por causa da nova lei para o segmento. Nos meses
seguintes, reflexos da crise econômica internacional levaram ao corte
de vagas e ao aumento no volume de demissões. Com tanta turbulência,
quais terão sido as conseqüências para o mercado de trabalho dos
estudantes? A resposta para esses questionamentos divide as opiniões.
Enquanto há quem aposte na recuperação do setor, outros acreditam que
haverá desaceleração.

Neste primeiro trimestre de 2009, segundo o presidente da Abres
(Associação Brasileira de Estágios), Seme Arone Júnior, o mundo dos
estágios já movimentou 150 mil oportunidades em todo o Brasil. “Redução
de 46% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram
oferecidas 220 mil vagas”, aponta. E, de acordo com os números
apresentados pela Abres, a nova lei de estágio pode ter contribuído
para a retração. Antes da lei, o País tinha 715 mil estagiários de
Ensino Superior. Depois da aprovação, o número caiu para 650 mil, queda
batizada de “apagão do estágio”.

O apagão, de acordo o presidente do Nube (Núcleo Brasileiro de
Estágios), Carlos Henrique Mencaci, foi reflexo da adaptação às novas
regras. “Além de não estabelecer um prazo de adaptação, a lei despertou
muitas dúvidas. Muitas empresas optaram por suspender temporariamente
algumas vagas até entender o documento”, afirma ele. Com a publicação
da cartilha do Ministério do Trabalho, quatro meses depois da
implantação da lei, houve retomada nas contratações, assegura Mencaci.
Seme Arone Júnior partilha da mesma opinião, mas acredita que a
adaptação não tenha sido o único fator para a retração. Para ele é
preciso considerar as peculiaridades de 2008 diante de 2009. “No ano
passado, além do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o País
usufruiu do desenvolvimento de diversos segmentos produtivos e,
consecutivamente, da expansão da mão-de-obra”, aposta ele.

A crise mundial, de acordo com Seme Arone Júnior, segurou tanto as
contratações como os investimentos. “Foi uma atitude preventiva adotada
mesmo por segmentos que não foram abalados diretamente. Até porque,
ninguém sabe o que a crise ainda pode causar”, diz ele. Tal fator, na
opinião de Mencaci, refletiu na retração das vagas de estagiários.
Embora considere impossível definir o que afetou mais o setor, o
superintendente do IEL (Instituto Euvaldo Lodi) – órgão ligado à
Federação das Indústrias responsável pelo desenvolvimento profissional
e capacitação empresarial -, Carlos Cavalcante, afirma que os
desajustes estão sendo reparados. “Não temos como precisar os estragos,
até porque eles variam muito entre os estados brasileiros”. De acordo
com ele, há cidades que vivenciaram expansão, ainda que pequena, nas
oportunidades. “Economias mais tradicionais sofreram mais, mas empresas
públicas não sofreram reduções”, diz o superintendente ao assegurar que
os efeitos só serão percebidos nos próximos meses.

O superintendente operacional do CIEE (Centro Integração Empresa
Escola), Eduardo de Oliveira, discorda que a crise financeira ou a nova
lei do estágio tenham sido as responsáveis pelo desaquecimento da
oferta de estágio. “As vagas oferecidas nos primeiros meses de 2009
pelo CIEE cresceram 66% em relação ao mesmo período de 2008.
Atualmente, o Centro oferece 50 mil oportunidades de estágio”,
exemplifica. Para ele, as empresas precisam preparar sua recuperação no
fim do colapso. “Uma das alternativas é formar novos talentos para,
quando o mercado virar, ter mão-de-obra qualificada”, sugere Oliveira.
O superintendente do CIEE lembra ainda que a contratação de estudantes
prevê incentivos fiscais. “As empresas ficam isentas do FGTS (Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço), do INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social) e até do 13º salário”, declara Oliveira.

Mesmo sem entrar no mérito do crescimento ou retração, os entrevistados
foram unânimes em afirmar que as oportunidades ainda não são
suficientes para cobrir a demanda do Brasil. Segundo a Abres, dos 4,6
milhões de estudantes do Ensino Superior, apenas 650 mil têm a
oportunidade de vivenciar na prática os conhecimentos da universidade.
Ou seja, 85% dos alunos estão fora do mercado.

Temporada de caça

Com ou sem crise, o primeiro trimestre do ano continua a ser o momento
ideal para quem busca sua oportunidade sair à caça de programas de
estágio ou trainee. Historicamente, cresce a quantidade de número de
vagas oferecidas por companhias tanto do setor público quanto do
privado devido à saída ou promoção dos atuais titulares destas
posições.

Além das 50 mil vagas anunciadas pelo CIEE, há ainda outras 10 mil
oferecidas pelo Nube. Isso sem contar aquelas abertas por empresas não
associadas às agências de recrutamento e, ainda, os programas de
trainees. A maior concentração de ofertas estaria nos grandes centros
urbanos do País, com vantagem para as regiões Sudeste e Sul, onde se
concentram as maiores empresas. No entanto, Oliveira e Mencaci garantem
que há oportunidades em todo território brasileiro.

A procura, na opinião do superintende do CIEE, é maior por estudantes e
recém-formados das áreas de Engenharias, Administração, Informática e
Comunicação. “Mas isso não significa que as oportunidades estão
restritas a essas especialidades”, assegura ele. As chances,
diferentemente do que se pode imaginar, não estão restritas para
universitários dos últimos anos do curso. “Há vagas para estudantes de
primeiro ano, embora algumas instituições dêem preferência a alunos com
mais experiência”, garante Oliveira.

Os pré-requisitos variam de acordo com a vaga e, ainda, com o perfil da
empresa que oferece a oportunidade. Geralmente, é exigido dos
candidatos conhecimentos em língua estrangeira e informática. Algumas
habilidades pessoais também são bastante valorizadas. “A boa formação
técnica é essencial, no entanto, não é mais um diferencial. É
importante ter capacidade de trabalhar em equipe, domínio de outros
idiomas, de informática e, ainda, excelente comunicação”, afirma o
superintendente do IEL.

Vagas

Ao buscar estágio, é preciso ficar atento, há oportunidades que
oferecem plano de carreira. O programa oferecido pelo Banco Santander é
um deles. Para o primeiro trimestre de 2009, a empresa estima abrir
cerca de 250 novas vagas para estudantes dos cursos de Administração,
Economia, Ciências Contábeis, Engenharias, Ciência da Computação,
Matemática, Estatística, Direito e Marketing. Ao término do programa,
boa parte dos estagiários costuma ser efetivada.

O programa oferece bolsa-auxílio, tíquete refeição, seguro de vida,
vale-transporte, assistência médica e férias proporcionais. Para se
candidatar, os interessados devem se inscrever no Universia Emprego. O
serviço é totalmente gratuito e para se cadastrar basta acessar o site
http://www.universia.com.br/emprego.

A petroquímica Shell Brasil também está com inscrições abertas para
preencher 30 vagas de estágio. As oportunidades são para a cidade do
Rio de Janeiro. Segundo a gerente de recrutamento e seleção da
organização, Raquel Nascimento, a crise financeira não trouxe nenhum
impacto para o setor de estágios da Shell. “O número de vagas se
manteve estável se comparado ao ano passado”, assegura.

Podem candidatar-se estudantes cursos de Administração, Ciências
Contábeis, Economia, Comunicação e Engenharia (Elétrica, Eletrônica,
Química e de Produção) com formação prevista para dezembro de 2010 ou
julho de 2011. “A capacidade de análise – com estrutura de raciocínio –
e o bom relacionamento são características valorizadas no perfil dos
possíveis estagiários da Shell Brasil”, diz Raquel. O programa dura até
dois anos e a carga horária de trabalho é de quatro horas diárias, mas
pode chegar a seis no período de férias universitárias. A Shell oferece
bolsa-auxílio, que varia de R$ 800 (quatro horas) a R$ 1.200 (seis
horas), mais benefícios adicionais. Interessados devem se inscrever no
site http://www.shell.com.br/rh até 29 de março.

No setor público, o IEL oferece 19.600 vagas de diversas autarquias
para estudantes do Ensino Superior. Há oportunidades em todos os
estados e em diversas áreas do conhecimento, tais como Administração,
Economia, Ciências Contábeis, Ciência da Computação e Engenharias. As
inscrições podem ser realizadas no site http://www.iel.org.br.

Já a Prefeitura de São Paulo abriu 96 novas vagas de estágio para
estudantes das áreas de Administração, Agronomia, Arquitetura e
Urbanismo, Ciências Contábeis, Ciências da Computação, Educação Física,
Engenharia Civil, Geografia e Jornalismo. Os candidatos devem estar
matriculados a partir do segundo ano da graduação. Há oportunidades
ainda para estudantes de Direito. Nesse caso, no entanto, os estudantes
devem estar cursando a partir do quinto semestre.

As bolsas-auxílio são de R$ 484,21 para jornada de quatro horas
diárias. Os estagiários têm direito ainda a auxílio-transporte no valor
de R$ 112,20. As candidaturas podem ser realizadas na Central de
Atendimento do CIEE pelo telefone 11- 3046-8211. As inscrições ficam
abertas até que todas as vagas sejam preenchidas.

Por fim, há os programas de estágios de fluxo contínuo. Entre as
empresas que operam desta maneira estão Colgate, Cyrela, Novartis e
Daimler-Chrysler. Aproveite para conferir essas e outras vagas
acessando no Universia o sub-canal Oportunidades de Estágio e Trainee.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *