ABRES realiza pesquisas sobre situação dos estudantes no país

jovens sentados em uma biblioteca
Crédito da Imagem: Istock Photos

Criada no final do ano passado, a Abres tem como principal
bandeira a manutenção da Lei de Estágio, sem alterações
que possam prejudicar a contratação do estudante. Agentes de
integração e empresas diversas que promovem programas de estágios
fazem parte do quadro de associados.

Presidente da associação desde sua fundação,
em 2004, Mencaci defende a contratação dos jovens pelas empresas,
principalmente porque vê o estágio como uma função
social. Acredita que está havendo uma conscientização
da importância da mão de obra do estagiário e apagando
o mito do serviço barato.

Em entrevista ao Jornal de Empregos e Estágios, Carlos
Henrique Mencaci fala ainda sobre as dificuldades enfrentadas pelos jovens
que não têm experiência e que buscam a primeira oportunidade
profissional. Veja a entrevista:

 

Qual é o papel da Associação Brasileira
de Estágios?

Carlos Henrique Mencaci – O papel da Abres é promover
o estágio adequando os interesses dos estudantes. Buscamos profissionalizar
o jovem brasileiro e apoiar todos os agentes de integração na
atividade. Além disso, subsidiamos a sociedade em termos de dados.
Esses dados não são currículos. São dados de todo
o Brasil, por exemplo, o número de estudantes no Brasil; quantos destes
estão no ensino superior e no ensino médio. Desses estudantes,
quantos estão desempregados, quantos estão procurando emprego,
quantos têm interesse no estágio, qual é a realidade dessa
população, etc. Cerca de 18% dos jovens brasileiros cursam o
nível superior. Podemos dizer que somente as classes A, B e C vão
participar desta graduação. As classes D e E não vão
fazer, a menos que seja uma exceção. E no ensino médio,
quantos jovens vão terminar o ensino médio e não vão
conseguir um emprego? Porque na primeira entrevista vão perguntar sobre
a experiência dele, o que ele já fez, qual é a capacitação
e qual cursos já realizou? Essa é a realidade de 82% dos Jovens
brasileiros. A desocupação dos jovens é o dobro da dos
velhos. As pessoas com 40 anos ou mais têm muita experiência.
Hoje, as empresas preferem contratar uma pessoa mais capacitada do que bancar
o custo de treinar, treinar, treinar o jovem e muitas vezes não ser
bem sucedido nisso.

Qual é a importância do estágio
para a vida profissional do jovem?

Carlos Mencaci – Quando um jovem faz uma entrevista de emprego já
logo perguntam: “Qual é sua experiência? Bom, o estágio
é a porta de entrada para o mercado de trabalho. Isso acontece porque
realmente a experiência faz diferença. Quando há experiência,
a pessoa que entra em uma empresa já sabe se relacionar com os outros
funcionários, já conhece como funciona uma organização,
os critérios e as regras. Muitas vezes, um jovem chega em uma empresa
e sequer sabe se comportar lá dentro. Pensa que todos ali são
seus amigos; chega e dá um tapinha nas costas do dono da empresa; entra
nas salas; interfere em uma conversa ou reuniões. Tudo isso é
questão de postura, falta de experiência.

O que as empresas esperam do estagiário?

Carlos Mencaci Quando uma empresa contrata um estagiário,
há um investimento nisto. Treinamento é um coisa cara e demanda
gente no corpo a corpo. Pessoal é caro. O tempo das pessoas é
caro. Seja o tempo do supervisor que está no dia-a-dia, como o estagiário,
em palestra ou workshops, por exemplo, tudo isso é caro com todo esse
treinamento, a primeira coisa que a empresa espera do estagiário é
um comprometimento. A empresa espera que ele se envolva na empresa, que atue
com garra, que ele não seja simplesmente um ouvinte. E preciso ser
participante entrar de corpo e alma. A postura do estagiário tem que
ser profissional. Ele precisa perceber que isso não faz parte da adolescência
dele. Eu digo isso porque, muitas vezes, estudantes entram com 17, 18 anos
nas empresas e continuam brincando. Outra parte muito importante do estágio
é a comunicação. Hoje, o mundo trabalha com muita comunicação,
seja através de e-mail ou telefone. Para isso, é necessário
ter um bom português, boa redação e boa comunicabilidade.
O estagiário não pode usar gírias ou palavrões.
Toda comunicação, quanto mais limpa, melhor.

Como os estudantes podem fazer para compensar a sua
falta de experiência profissional?

Carlos Mencaci – Os cursos extracurriculares são uma boa opção
A empresa não vai contratar um jovem que nunca viu um computador. Esse
tipo de cursos são muito bons. Ter um bom Português ajuda bastante.
Apresentação pessoal durante as entrevistas, postura, constante
leitura, estar atualizado, tudo isso é muito importante.

Fala-se muito que estagiário é uma mão-de-obra
barata sem função especifica em uma empresa. Esta visão
errônea e simplista do estagiário tem mudado nos últimos
anos?

Carlos Mencaci – Sim A partir do momento que uma pessoa é treinada,
tem custo, é não é baixo. O que é uma mão-de-obra
barata? Se estudarmos economia, mão-de-obra é apenas commodity
e quem manda é a lei da oferta e da procura. Se há muitas pessoas
desempregadas o preço cai. Se analisamos pessoa por pessoa e vermos
o quanto ela está recebendo, associaremos diretamente ao grau de capacitação
dela. Não há mistério, a capacitação é
que define o preço. Quando uma empresa busca um estagiário de
ensino superior, ela já está buscando alguém mais qualificado
mais qualificado que 82% da população que apenas vai cursar
o ensino médio ou que nem vão finalizá-lo. O valor médio
de um estagiário de nível superior é de R$700, em São
Paulo. Isso não é barato. O estagiário ainda receberá
treinamento e mais capacitação. Muitas vezes, ele fica dois,
três meses em uma empresa sem produzir nada. Isso pode chegar até
seis meses para começar a entender como funciona as engrenagens da
empresa.

Em teoria, no que o estagiário se diferencia
de um profissional efetivo?

Carlos Mencaci – O efetivo tem um contrato de trabalho regido pela CLT. O
estagiário tem um contrato regido pela Lei de Estágio. Juridicamente,
os contratos são totalmente diferentes. A Lei do Estágio dá
algumas garantias, por exemplo, que o estágio não poderá
atrapalhar as aulas do estagiário. Quantos empregos efetivos forçaram
o jovem a abandonar o estudo? O estágio é o contrário,
promove o estudo.

O que o senhor pensa sobre a Lei de Estágio?
Ela é adequada às necessidades das empresas e dos estudantes?

Carlos Mencaci – Ela é adequada porque é genérica. O
estágio de ensino médio, por exemplo – que atende a população
extremamente carente, onde 82% não vão fazer um curso superior
– oferece uma grande oportunidade no mercado de trabalho. Esse povo imenso
– onde apenas 100% trabalham ou estagiam – precisa de apoio. Às vezes,
vemos criticas à Lei do Estágio. São 8% que fazem ensino
superior, mas nem 2% estudam em universidades públicas. Muitos estudantes
da USP, por exemplo, não precisam se preocupar em fazer estágio.
Quando eles terminarem o curso, as empresas multinacionais mais poderosas
vão brigar para contratá-los. Para esses, não é
necessária lei para protegê-los. Quando eu digo que a Lei do
Estágio é adequada, é porque ela é genérica.
Ela contempla todo mundo. Propicia para que tenhamos mais estudantes estagiando.
Outra coisa, ela não onera em impostos. Não tem INSS, FGTS,
13° salário ou rescisão contratual. Tudo isso para compensar
e estimular o empresário a contratar estagiários. Mesmo assim,
poucos empresários contratam estagiário. As pequenas empresas,
principalmente, alegam que não têm como treinar um estagiário.

Na contra mão das pequenas empresas, as de grade
e médio porte possuem programas de contratações de estagiários,
o que não acontecia até pouco tempo. Por que esse investimento
no estagiário?

Carlos Mencaci – No mundo cada vez mais globalizado e mais competitivo, a
empresa que fica parada é atropelada. Há um número cada
vez maior de novas teologias. Para trabalhar com essas situações,
quanto mais jovens com mais energia, mais grande atualizados – mais chances
da empresa a sobreviver. As empresas de uma maneira geral se preocupam com
a renovação dos seus talentos. Isso vale para todos funcionários.
Se a empresa não injetar o tempo todo novos conhecimentos dentro de
sua estrutura de RH (recursos humanos), ela não consegue manter a competitividade
dentro do mercado global.

Quais são as áreas que mais oferecem
estágios?

Carlos Mencaci – Há áreas que são cotingas. Administração
de Empresas, Comunicação Social, Marketing e Publicidade são
áreas onde é possível atuar em diversos setores das empresas.
Há um leque gigantesco de empresas. Em contra partida, há outros
cursos que são restritivos, como Direito. Nós temos um problema
no Brasil, são centenas de milhares de estudantes de Direito e não
existe mercado para todo esse contingente. Seja estágio e efetivo,
não há mercado. Somente os melhores vão conseguir o emprego,
nelas mesmo assim vão ganhar pouco. O ideal seria ter um controle do
volume de cursos que existe no mercado com essa realidade. Nos Estados Unidos,
isso é feito. Aqui não existe legislação quanto
a isso. Por outro lado, existem cursos que sentimos falta de estagiários,
por exemplo, de Matemática ou Estatística. Todos os estudantes
desses cursos já estão estagiando e muitos são efetivados.
No entanto, são áreas que dependem da vocação
da pessoa.

Empresas que trabalham com muitos estagiários
podem atrapalhar na formação desse profissional?

Carlos Mencaci – Normalmente há um padrão das empresas na contratação
de estagiários. Grande parte das empresas não faz muitas contratações
de estagiários, se comparado aos efetivos. Quando uma empresa tem uma
utilização maior de estagiários, normalmente já
desenvolveu um sistema de treinamento e capacitação desses jovens.
Provavelmente a empresa descobriu que com estagiários ela tem uma economia,
porém ela também está investindo em treinamento. Esse
tipo de empresa é a que mais efetiva estagiários. Estas empresas
estão fazendo um bem, porque estão inserindo vários jovens
no mercado. Se essa empresa não efetivar esse jovem) com certeza ele
tem mais chances de ser contratado por outras companhias.

Fonte: Jornal de emprego e estágios em 11 de Março

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