Não é fácil ser trainee. Mas vale a pena

Com apenas 33 anos de idade, o paulistano Guilherme Boog é gerente de operações da empresa Siemens, em Jundiaí. Entre muitas de suas  responsabilidades, está a de comandar cerca de 140 funcionários. Ele está há dez anos no grupo e começou como estagiário. No início da carreira, atuou na unidade da empresa em São Paulo e também trabalhou na Alemanha. Na empresa jundiaiense, está desde 2007.

Guilherme recorda que se tornou estagiário depois de ter sido recrutado no Programa de Desenvolvimento de Talentos. “Fiquei um ano como estagiário. Aprendi sobre tudo o que era relacionado a vendas, fazia orçamentos, cálculos  de custos de equipamentos, enfim, várias funções, assim como os outros aprenderam”, afirma. “Depois fui indicado para ser trainee. O processo durou dez meses e incluiu dinâmicas, testes psicológicos e testes de inglês. No final, tive que apresentar um projeto de um novo produto, para toda a diretoria da empresa”.

Apesar de não ter sido fácil o tempo de atuação como trainee, Guilherme considera que o passo anterior, como estagiário, foi mais difícil. “Há empresas que pegam trainees do mercado de trabalho. Mas a Siemens primeiro contrata estagiários que depois podem virar trainees. Comecei como estagiário, num processo em que concorri com muitas pessoas”, recorda. “Já não me lembro de números mas, no ano passado, por exemplo, 8 mil estudantes se inscreveram para concorrer ao estágio.”

A seleção de estagiários, na época, começou pela análise de currículos. Depois, teve entrevistas e dinâmicas. O curioso é que Guilherme não havia sido selecionado na fase inicial, o que o surpreendeu. “A análise do currículo considerava idiomas e experiências extras. Eu estranhei ter sido barrado, pois falava inglês e alemão, cursava engenharia elétrica na Unicamp e tinha tido experiência internacional”, relata. “Foi aí que resolvi ligar para o RH da empresa para saber o que estava acontecendo.”

O telefonema mudou a vida de Guilherme. Ele descobriu que o currículo havia despertado interesse da empresa, porém, como a formação na Unicamp seria concluída antes do período que constava nas regras do processo da empresa, foi recusado. “Comentei, então, que eu poderia prorrogar o meu encerramento de curso porque eu queria trabalhar na Siemens. E foi o que fiz. Mudei a minha vida.” Depois disso, ele passou por entrevistas em inglês e com profissionais de RH e com gerentes. “A seleção para trainee depois foi mais fácil, porque foi feita entre estagiários que já se conheciam e já estavam ambientados.”

As dicas – Guilherme afirma que só com trabalho é possível obter resultados e ascensão. “Nas entrevistas, é só ser natural. Você deve responder aquilo que você acha certo e ser direto e objetivo, mostrando o que sabe. Não precisa fingir, mesmo porque, você é entrevistado por pessoas que entendem de psicologia e por gerentes. São pessoas que vão perceber se houver algo de errado”, lembra. “A sua posição na empresa será consequência do trabalho. Você tem que fazer o que gosta e trabalhar com pessoas interessantes para aprender e, ao mesmo tempo, ter uma remuneração compatível. A carreira tem fases e etapas. Não adianta querer dar passo maior do que a perna. Cumpra sempre o que se espera e, se for possível, procure se superar, procure exceder”.

Época favorável – O momento é bom para quem deseja ser trainee. Várias empresas estão com inscrições abertas para essa seleção. Para a empresa C&A, por exemplo, serão abertas inscrições neste dia 8 e vão até 30 de outubro. Já inscrições para a AmBev vão até amanhã. Na AmBev, o treinamento dura dez meses. Aprovados no processo seletivo, os trainees tornam-se automaticamente funcionários. Entre os critérios que serão analisados estão habilidade para negociação, capacidade de liderança, visão empreendedora, disponibilidade para viagens e mudanças de cidade, Estado ou País, e inglês fluente. “Buscamos pessoas que tenham vontade de crescer, de fazer a diferença e que realmente tenham o perfil de nossa companhia. Com o Programa Trainee estamos formando nossos futuros líderes”, explica Thiago Porto, gerente de Desenvolvimento de Gente da empresa.

O processo seletivo tem diversas etapas eliminatórias. Após o término das inscrições, os candidatos passarão por um teste online de português, inglês e raciocínio lógico; dinâmicas de grupo – que ocorrerão por todo o País; entrevistas individuais com a área de Gente da AmBev; painel de negócios, no qual desenvolverão um case; provas presenciais de inglês e de raciocínio lógico; entrevistas finais com presidente e diretores da companhia. O salário inicial é de R$ 3,7 mil mais benefícios. Só em 2008, a AmBev promoveu 40% de seus funcionários. Dos 86 brasileiros que atuam fora do País, 25% ingressaram na companhia por meio do Programa de Trainee. No Brasil, não há uma entidade que forneça o número de vagas para trainees. A Abres (Associação Brasileira de Estágios), no entanto, afirma que, neste segundo semestre, estão previstas 45 mil vagas no País.

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