Estágio é oportunidade de praticar o que foi aprendido







 

Carlos Alberto Briggs
Atualmente existe no Brasil 1 milhão de estagiários, segundo a Associação Brasileira de Estágios (Abres), e mais do que impressionar, os números mostram uma clara tendência de absorção dos estudantes pelo mercado nacional, podendo ser a porta de entrada para a solidificação dos conhecimentos acadêmicos e escolares. É a primeira experiência e a tão sonhada chance para atuar na área de formação.

A legislação que regulamenta o contrato de estágio Lei 6.494, de 7 de dezembro de 1977 não determina o número de horas trabalhadas, no entanto, deixa claro que a carga horária deve ser compatível com as atividades acadêmicas ou escolares, deixando a competência para o tema a cargo das instituições de ensino. Também não há referência quanto ao número de estagiários que podem ser contratados pelas empresas. Além disso, a regulamentação prevê a possibilidade de o estudante não receber pelas atividades prestadas, mas garante que o mesmo esteja assegurado contra acidentes pessoais ocorridos durante o horário de estágio, ou no deslocamento entre a casa e o trabalho.

Algumas instituições de integração profissional, como o Centro Integrado Empresa-Escola (CIEE) e a Fundação Mudes já oferecem seguro de vida e invalidez permanente total ou parcial aos estudantes, incluindo os fins de semana.

Para conquistar uma vaga, o aluno deve atender a requisitos como domínio do pacote Office e, em alguns casos, possuir sólidos conhecimentos em inglês. Além desses atributos, ter boas noções de uma segunda língua, como alemão, francês ou espanhol, podem ser diferenciais importantes para a conquista de uma oportunidade.

A gerente de Atendimento às Empresas do CIEE-RJ, Lílian Schocair, de 38 anos, acrescenta a importância de o aluno possuir uma boa redação e domínio da língua portuguesa.

“Não adianta apenas saber inglês e desconhecer a nossa língua materna. Além disso, as empresas de hoje não buscam só bons currículos, mas qualidades como iniciativa e dinamismo. Saber trabalhar em grupo é fundamental”, esclarece.

Vivência no exterior passa a ser outro item significativo para candidatos, tanto a estágio, como também para trainee. A diferença entre ambos é que quem exerce esta última função está amparado pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e assume posições estratégicas nas empresas.

“A vaga de trainee é para aqueles estudantes que estão no último período ou estão formados há, no máximo, dois anos. São profissionais em quem as empresas investem para assumir cargos gerenciais dentro da instituição”, explica.

Um dos caminhos pode ser começar a praticar desde cedo. Muitas universidades disponibilizam laboratórios experimentais, nos quais alunos conciliam teoria e prática. A Estácio de Sá possui, em Niterói, um Núcleo de Comunicação Social com espaços de prática em TV, impresso, rádio e publicidade. A vantagem é que alunos desde o primeiro período podem participar.

Para a coordenadora de Rádio e Impresso, Helen Brito, é importante essa participação precoce dos alunos.

Talentos são parte da AFR

Para muitos estudantes, estagiar pode significar a descoberta pelo interesse em uma área específica dentro do curso de formação. A oportunidade de ter contato prático com o que é visto em sala de aula ajuda no processo de amadurecimento profissional e facilita a escolha.

Aluna do 5º período de Pedagogia, Clécia Mathias, de 30 anos, está hás seis meses estagiando na Associação Fluminense de Reabilitação (AFR). Essa é a primeira experiência profissional da universitária.

“Trabalho com crianças especiais, algo que me marcou muito. Por isso, quero fazer uma pós-graduação em Psicopedagogia”, afirma.

O estágio na AFR conta com o auxílio de supervisores, que procuram dar retorno aos alunos durante as atividades.

O coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Instituição, Marcos Soarez, de 50 anos, ressalta que fazer um estágio na AFR é um diferencial curricular:

“Há poucos centros de referência em reabilitação no País. Somos uma das cinco instituições no Brasil. E contamos com uma tradição de mais de 50 anos”.

A associação, inclusive, está com vagas para bolsistas. Após dois anos sem abrir processo seletivo, Marcos explica que essa é uma oportunidade voltada aos alunos que estejam formados há até dois anos. Eles contam ainda com uma bolsa-auxílio de R$ 450, no primeiro mês e R$ 900, do segundo ao 12º mês de prática. Há chances de efetivação ao final do contrato. Já para os estagiários, não há remuneração.

“Exceto a equipe médica, todo o quadro é composto de ex-estagiários. É política da AFR aproveitar os talentos”, declara.

Formada em Fisioterapia desde setembro de 2006, Adriana Nielsen Aide, de 25 anos, concorreu a uma das vagas no último concurso. Ela lembra que estudou muito e hoje não se arrepende.

“Sempre fiz estágios e acredito na importância de praticar o que se aprende em sala. Quando o professor falava de uma doença, eu já associava a alguns pacientes que atendia. Esse casamento ajuda na formação acadêmica”, diz.

O coordenador de Estudos e Pesquisas acrescenta que é fundamental o aluno estagiar com uma boa bagagem teórica:

“Com isso, ele consegue aplicar a técnica, entendendo o porquê de todo o processo”.

A fisioterapeuta Fernanda Pimenta, de 27 anos, começou na AFR em 2001. Dois anos após já era bolsista. A partir de 2005, virou pesquisadora de epidemiologia de deficiência da reabilitação. O trabalho é visto pela funcionária como um reflexo do processo de aprendizado, auxiliado pela prática de estágio desde o início do curso universitário.

Pesquisas e avaliações

A Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), no Jardim Botânico, Rio, admite estagiários de Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social, Pedagogia e Fonoaudiologia para realizarem atividades dentro do Centro de Reabilitação, como avaliação, atendimento, participação nas reuniões de equipe e realização de relatórios.

Além disso, fazem trabalhos de pesquisas, solicitados pela própria ABBR. Eles também passam por uma avaliação mensal de desempenho pelas atividades realizadas nos diversos setores em que atuam.

Outro diferencial da instituição é o reforço teórico. Como há uma diversidade muito grande de patologias e eles passam por vários setores, muitas vezes podem recorrer ao auxílio de materiais teóricos. Para isso, a associação conta com uma biblioteca onde os estagiários podem consultar diversos títulos referentes.

“O atendimento multidisciplinar ajudar a ver o paciente como um todo”, disse Ana Rosa Rodrigues, coordenadora de estágio e ensino da ABBR.


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