Ganhei o diploma e perdi o emprego. E agora?

Por Marcel Frota

Quando a então estudante Luciane Yuri Nagatomo,
22 anos, decidiu estagiar no Metrô de São Paulo, ela tinha uma certeza:
não seria efetivada. Não se tratava de insegurança em relação ao seu
potencial dentro da empresa. É que o Metrô, como empresa pública, só
contrata efetivos por meio de concurso e ela sabia disso. Mas a
perspectiva de trabalhar com prazo de validade não a desestimulou.
Entretanto, não são todos os estudantes que estagiam que têm a certeza
e a visão que Luciane teve. Levantamento feito pela Abres (Associação Brasileira de Estágios)
revela que há 1,1 milhão de jovens estagiando no Brasil. Muitos deles
não têm a mais remota noção do futuro quando se formarem. Muitos, assim
como Luciane, perdem o posto quando ganham o diploma e ficam
desempregados. Será que é possível saber vagamente quais os planos que
as empresas têm para seus estagiários? E o que fazer, caso não haja
plano algum? Com 12 anos de experiência na área de gestão
profissional, Sidnéia Palhares, gerente da divisão de efetivos da
Gelre, empresa que recruta profissionais de diversas áreas, aconselha
que os estagiários procurem observar os sinais para saber se haverá ou
não uma chance de conseguir ser efetivados. “O estagiário precisa
definir primeiro se gosta ou não da atividade que exerce. Depois
precisa ficar atento e saber se cabe mais um na empresa ou se pode ser
aberta mais uma vaga. Também precisa observar se alguém vai se desligar
da empresa e assim abrir uma vaga para possível efetivação”, afirma
Sidnéia.Além de ficar atento, Claudia Monari, consultora do
Career Center, empresa especializada em gestão de carreiras, acredita
que o estagiário deve pedir regularmente um retorno sobre seu
desempenho na empresa. Ela reconhece que, assim como aconteceu com
Luciane, muitas empresas deixam claro quais serão os planos para o
estagiário bem antes de colocá-los em prática. “Acho que é um processo
que começa na contratação. Muitas empresas colocam isso claramente no
processo de seleção dos estagiários”, explica ela. E o que levaria um
estudante a topar o estágio mesmo sem qualquer chance de efetivação? No
caso de Luciane, foi uma questão de oportunidade. “Não me preocupei,
porque o Metrô de São Paulo é uma grande empresa e me pareceu uma boa
oportunidade de aprender. Além disso, durante a entrevista, gostei da
pessoa que seria minha gestora”, conta Luciane.Caso o estagiário
não tenha certeza sobre qual será seu destino na empresa depois da
formatura, Márcia aconselha atitude. “Acho que quando o estudante
estiver a dois meses de se formar, deve procurar seu gestor e se
certificar dessa situação. Se realmente não houver possibilidade de
efetivação, ele deve pedir a ajuda do gestor e explicar que deseja ir
para o mercado procurar uma vaga. Nesse momento o gestor pode
contribuir com indicações”, explica Cláudia. “Creio ser importante o
acompanhamento a cada dois meses. O estagiário pode pedir um retorno
sobre o trabalho dele. Não deixar isso para o final, mas ir
acompanhando justamente para não ter surpresas no final”, completa. De
acordo com Sidnéia, procurar o gestor é fundamental para ter clareza
sobre o futuro e evitar ansiedades e incertezas em relação ao que virá
depois da graduação. “Se o estagiário não percebeu isso, ele pode
conversar com o superior. Mas é preciso jeito nessa conversa. Não pode
ser arrogante ou colocar o chefe contra a parede. Essa conversa pode
começar sobre a proximidade de sua formação, ou sobre o fato de estar
no último ano e querer saber a respeito do término do estágio. Dizer
que gostaria de conhecer a opinião da empresa a respeito dele.
Perguntar se a empresa tem um cargo para ele. E se oferecer, se
vender”, declara ela.A gerente da Gelre lembra ainda que, antes
de pensar em efetivação ou se desesperar com uma possível dispensa, o
estagiário deve avaliar se aquela atividade é de fato o que ele busca
profissionalmente. “É necessário ver se a atividade do estágio tem a
ver com a sua formação. Porque é notório que o mercado faz isso, ou
seja, usa a mão-de-obra do estagiário para suprir a carência de um
profissional. Então precisa ver, é a sua área? Você gosta de fazer
aquilo? Quais são os resultados do que você faz? É pró-ativo? O
estagiário pode ser criativo e isso é muito bem-vindo. Se ele tem essas
posturas, a empresa vai olhar para ele de maneira diferente. São sinais
claros”, acrescenta Sidnéia.Quando a resposta é NÃOSe
depois de algum período no estágio o estudante conseguir ser efetivado,
terá pela frente um novo desafio e precisará se adaptar à mudança. Mas
o que fazer se a resposta for negativa? Nesse momento é preciso ter
calma e se concentrar de maneira equilibrada para poder sair em busca
da sua oportunidade. Ser preterido não significa atestado de
incompetência. “Não significa necessariamente que ele seja
incompetente, mas que na empresa talvez não tenha vagas. Muitas vezes o
quadro da empresa está completo, então não há possibilidade de
contratação. Quando se fala em abrir uma nova vaga, significa mexer no
orçamento, nos investimentos da companhia. Nem sempre a empresa
comporta mais um profissional. Ainda que o salário seja de R$ 2 mil, o
custo para empresa pode ultrapassar o dobro disso”, afirma Sidnéia.Por
isso mesmo, o recém-graduado não deve se sentir inseguro ao batalhar
seu novo emprego por estar com o peso da dispensa. Na opinião da
consultora do Career Center isso não vai influenciar o responsável
pelas contratações da nova empresa se o motivo da saída do estágio não
estiver relacionado com má atuação. “Não influencia se o motivo da não
contratação não foi por desempenho. Tem muita empresa que usa
estagiário como mão-de-obra barata e o mercado sabe disso. Por isso,
não ser efetivado não é algo tão traumático”, garante Marcia. Luciane
engrossa o coro e diz que, embora tenha sido questionada durante um
novo processo de seleção, não teve problemas para continuar o processo
quando explicou a causa da saída. “Todos perguntaram, mas também
aceitaram meu argumento. Acho que depende da resposta, depende muito do
motivo da saída”, diz Luciane, que atualmente já está empregada numa
empresa exportadora.Então, se o estagiário receber um não como
resposta pode ir procurar emprego imediatamente? “Desde que deixe isso
claro para o gestor. Explique que, diante da impossibilidade de
efetivação, pretende deixar seu currículo no mercado”, diz Márcia. Sem
essa combinação com o gestor, Sidnéia alerta que o estagiário não deve
cometer o erro de sair a procurar sua vaga no horário de trabalho e
largar mão de suas obrigações na empresa em que está. “Não dá para
procurar emprego enquanto trabalha. Isso é errado e antiético. Mas tem
aquela coisa: a pessoa trabalha o dia inteiro e à noite estuda, então
quando vai procurar emprego? Quando ele se desligar da empresa, terá
todo o tempo para se dedicar a isso”, aconselha ela.Sidnéia
também dá um conselho para quem passa pelo problema de não ter sido
efetivado. “O estagiário deve acreditar que sempre pode. Do contrário
acaba por levar uma carga negativa para a outra empresa e aí já entra
com postura de derrota”, alerta ela. Perguntada se é mais fácil
conseguir um emprego enquanto ainda se está empregado, ela fala mais a
respeito da postura que o candidato deve manter para ter sucesso. “Se é
verdade ou não isso, não sei. Mas quando está empregado você está numa
situação melhor. Você vai para a entrevista se sentindo mais
valorizado. Quando você é demitido, se sente rejeitado. Imagina que não
serve para a empresa. Muitas vezes isso não é verdade, mas de qualquer
forma o profissional já se sente rejeitado. Então ele vai para a
entrevista pensando na demissão, já se envolve com esse sentimento e
isso se reflete até mesmo no seu aspecto físico. Fica de olhos baixos,
ombros baixos, parece que o mundo está nas suas costas e o
entrevistador percebe”, diz Sidnéia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *