Empregos: Quanto vale o estágio?


Pesquisa revela que a bolsa-auxílio paga pelas empresas aos estudantes
de Nível Médio está abaixo do salário mínimo no Estado do Rio

Andréa Machado


Rio – A estudante de Publicidade Ana Beatriz Dias Couto, 21 anos,
espreme como pode a bolsa-auxílio que recebe todo mês do estágio que
faz em um órgão público estadual. Ela tem que fazer mágica para chegar
ao fim do mês com algum dinheiro para pagar contas, aluguel, a
faculdade particular e outras despesas do dia-a-dia. Se comparado o
valor médio das bolsas pagas para estudantes de Nível Superior e o que
Ana Beatriz recebe, ela tem motivos para ficar feliz: segundo pesquisa
do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios) este valor é em média de R$
635,19 no estado.

O que ganho (em torno de R$ 1 mil) é bom para um estagiário, se
compararmos com o salário mínimo que muitas pessoas recebem. A bolsa é
que me sustenta. Não é fácil ter que pagar aluguel, a faculdade e as
contas da casa, contou a estudante de Saquarema que há um ano e meio
se mudou para Niterói a fim de ficar mais perto da faculdade. A
pesquisa do Nube revela que, em média, o valor da remuneração no estado
é de R$ 319,09 para estudantes de Nível Médio (abaixo do salário
mínimo) e de R$ 483,33 para Ensino Técnico, abaixo da média nacional
(R$ 760 para Superior, R$ 498 para Técnico e R$ 429 para Médio).

Segundo dados da Abres (Associação Brasileira de Estágios), 1,1
milhão de jovens estagiam no Brasil, sendo 715 mil no Ensino Superior e
385 mil no Ensino Médio/Técnico. Ingressam, anualmente, cerca de 1,4
milhão de alunos no Ensino Superior, mas somente 736 mil se formam. A
maioria desiste por falta de condições financeiras para pagar uma
faculdade. O índice de inadimplência nas universidades é muito grande,
afirmou Carlos Henrique Mencaci, presidente da Abres.

Mais de 80% dos estudantes usam o salário do estágio para ajudar em
casa. Foi época em que a bolsa era só um complemento. Pelo menos 90% do
valor da bolsa é para pagar a faculdade. O resto vai para o orçamento
familiar, complementa Leyla Nascimento, diretora do Instituto
Capacitare e presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do
Rio de Janeiro.

O presidente do Nube, Seme Arone Junior contou que a pesquisa indica
que 46% dos estagiários são homens e 54% mulheres, uma inversão em
relação ao mesmo levantamento feito há três anos. Foi constatado também
que as bolsas pagas pelas empresas tiveram um aumento de até 40% de
2005 para cá, principalmente nas áreas que mais necessitam de
profissionais como contrução civil, petróleo, autopeças, automóveis e
informática. Engenharia, Ciências Contábeis, Estatística, Economia,
Biblioteconomia são cursos que não acompanharam o mercado de trabalho
com a mesma oferta de vagas nas universidades, disse Seme.

No Brasil, 10 cursos como Direito, Administração e Fisioterapia
são responsáveis por 65% dos estudantes universitários. Para o
presidente do Nube, antes de optar por uma carreira, o estudante deve
conhecer a demanda do mercado e observar o número de alunos que se
formam anualmente. O aluno tem que empreender e isso significa ter
foco, ver o que os outros não conseguem enxergar, ensino Seme Arone
Junior.

Novas regras pelo caminho

Desde o ano passado tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei
2.419/07 que estabelece novas normas para o estágio no País. Hoje, a
atividade é regulamentada pela Lei 6.494 de 1977. Entre as novas regras
estaria a limitação de trabalho a, no máximo, seis horas diárias ou
30 horas semanais para estudantes do Ensino Superior e dos níveis
Médio e Técnico. Outra boa novidade seria o direito a férias
remuneradas de um mês para cada ano trabalhado. E a preferência é que
fossem gozadas durante o recesso escolar. O tempo do estágio não
poderia ser superior a dois anos, como prevê o projeto, exceto para
estudantes com necessidades especiais.

Caso a proposta seja aprovada no Senado e na Câmara o documento já
está pronto para ser votado , as empresas, em caso de estágio
não-obrigatório, terão que conceder bolsa-auxílio e vale-transporte.
Instituições com mais de 25 funcionários, poderão ter até 20% do seu
quadro de estagiários. O projeto tem muitas coisas boas, mas também
coisas ruins. A limitação da carga horária máxima de seis horas vai
permitir que o jovem tenha melhor rendimento escolar, mas por outro
lado pode fazer com que as empresas diminuam o valor da bolsa, lembrou
Carlos Henrique Mencaci, presidente da Abres (Associação Brasileira de
Estágios).

Feiras, palestras e debates

Esta semana, de terça a quinta-feira, a Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro) realiza a IV Mostra de Estágios. Empresas como Oi,
World Study, YEP Brasil, Hermes, Carioca Nielsen Engenharia, Provedor
de Talentos, CCAA, Senac Rio, Orion Engenharia, Gestão de Talentos
Seres, Experimento, LOreal, Brascan, Isbet, Conselho Regional de
Administração, Ediouro e Accenture já confirmaram presença nos três
dias do evento. Serão realizados debates, palestras e oficinas. A
mostra vai de 13 a 15 de maio, das 10h às 20h no Maracanã.

E no fim do mês, de 27 a 29 de maio, é a vez da Unigranrio, em Duque
de Caxias, realizar mais uma edição da Expo Estágios & Carreiras.
Devem ser oferecidas 2 mil vagas de estágio. Instituições como
Associação Brasileira de Recursos Humanos, Caixa Econômica Federal,
Sebrae, CIEE, Firjan, Fundação Mudes, Gás Butano, Sonoleve, Provedor de
Talentos, World Study, Lojas Riachuelo, Nortec Química, Central de
Intercâmbio, Caçula, Comercial Milano e Dentsply vão participar. Cerca
de 10 mil pessoas devem passar pela feira.

Onde há vagas

A empresa Módulo, que atua nas áreas de software e consultoria, está
com inscrições abertas em seu programa de estágio. Oportunidades no
Rio, São Paulo e Brasília. São 40 vagas e é preciso que o estudante
esteja cursando a partir do 4º período de Engenharia, Informática,
Tecnologia, Administração, Comunicação (Marketing) e Economia. Também é
fundamental bons conhecimentos de Inglês e/ou Espanhol e do pacote
Office. Os estagiários vão receber bolsa-auxílio e benefícios
compatíveis com o mercado. Carga horária de quatro ou seis horas
diárias. As inscrições são aceitas no site www.modulo.com.br. O processo inclui análise de currículo, provas técnicas e entrevistas.

O HSBC também recebe currículos em seu site (www.hsbc.com.br).
O estudante tem direito à bolsa de R$ 869 (valor médio para seis horas)
e R$ 1.159 (oito horas), além de R$ 9 por dia de auxílio-alimentação e
assistência médica. Atualmente, no Estado do Rio, há vagas para
estudantes de Administração, Economia, Direito e Comunicação Social.
Mas universitários de outros cursos também podem cadastrar seu
currículo no site do banco.

A Shell recebe currículos de estudantes com previsão de formatura
para dezembro em Administração, Economia, Psicologia, Informática,
Geologia, Química e Engenharia (Eletrônica, Elétrica, Mecânica, de
Computação, Petróleo e de Produção). Os salários variam de R$ 3.500 a
R$ 4 mil, mais tíquete-restaurante, vale-transporte e plano de saúde.
Os selecionados vão participar do programa Novos Talentos. Inscrições
até quarta-feira no site www.shell.com.br.

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