Escolaridade afeta diretamente o PIB

Em uma geração, País
deixa de ganhar R$ 300 bilhões, o equivalente a 16% do Produto Interno
Bruto, diz Banco Mundial

Lisandra
Paraguassú, BRASÍLIA


Habituados a ouvir dizer que a baixa escolaridade trava o
desenvolvimento, os brasileiros têm agora um número calculado pelo
Banco Mundial (Bird) que ajuda a provar o tamanho do estrago social e
econômico.

Segundo
o banco, o Produto Interno Bruto (PIB) do País deixa de crescer meio
ponto porcentual por ano porque um grande contingente de jovens não
consegue terminar a escola. Essa porcentagem significa que, em uma
geração (40 anos, neste caso), o Brasil deixa de ganhar R$ 300 bilhões,
o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto.

O estrago e a
conta estão no relatório Jovens em Situação de Risco no Brasil,
divulgado ontem em Brasília. E os custos são muito mais amplos:
violência, gravidez precoce, aids, desemprego, abuso de drogas e
álcool. Os problemas que cercam os jovens em risco custam caro, tanto
em despesas diretas do País quanto no que esse jovens deixam de
produzir, para si e para o Brasil.

O diagnóstico do Banco
Mundial é duro: A baixa acumulação de capital humano permite antecipar
uma futura geração que não será competitiva nem na região, nem no
mundo, diz o estudo. Não apoiar os jovens é um custo alto para o
País. É um grupo sobre o qual o governo tem de pensar mais, disse a
autora do estudo, Wendy Cunningham, economista sênior do Banco Mundial.

Apesar
de uma certa evolução – os jovens brasileiros hoje têm, em média, 8,5
anos de estudo, um a mais do que a geração anterior -, a escolaridade
no País é considerada baixa. O estudo mostra que o número de jovens que
chegam ao ensino superior no Brasil é o menor da América Latina.

Ingrid
Faria Adamo, de 18 anos, parou de estudar em março. Ela cursava o 3º
ano do ensino médio noturno quando seu horário de trabalho foi alterado
e ela passou a ter de permanecer na empresa de telemarketing até as 21
horas. Enquanto esperava sua transferência para o período matutino na
escola, acabou conseguindo trocar novamente de turno no serviço. Ao
informar a escola de que poderia voltar a estudar à noite, conta, o
diretor disse que ela já havia perdido muitas aulas e provas e que
deveria procurar um supletivo. Ele praticamente me expulsou porque
faltei duas semanas, diz. Hoje, Ingrid – que trabalha desde os 15 anos
– ainda procura uma vaga na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o
antigo supletivo. Eu gostava de estudar e quero muito fazer uma
faculdade de Arquitetura.’

A CADEIA DA POBREZA

Os
R$ 300 bilhões calculados pelo Banco Mundial referem-se diretamente a
esse problema: se os jovens brasileiros que deixam a escola
completassem apenas o nível de ensino seguinte ao que deixaram de fazer
– se um jovem que deixa a escola na 8ª série do ensino fundamental, por
exemplo, terminasse o ensino médio -, ele receberia um salário maior.
Somados, esses salários (não recebidos) da geração que largou a escola
somariam mais R$ 300 bilhões girando na economia nacional.

A
pobreza faz com que todos os demais riscos aumentem. Jovens pobres
abandonam mais cedo a escola, têm mais dificuldades de encontrar
emprego, morrem mais cedo, envolvem-se mais com drogas e correm mais
riscos de serem pais ainda muito cedo.

Entre os jovens mais
pobres, a taxa de analfabetismo é três vezes a da média nacional. Os
que trabalham com carteira assinada representam apenas 1/8 da média do
País e 90% dos jovens desempregados vêm de famílias com renda inferior
a dois salários mínimos.

De acordo com o Banco Mundial, o
Brasil tem uma das menores taxas de desemprego entre jovens da América
Latina. Mas, quando comparada com a dos adultos, é alta demais para um
País com o nível de atividade econômica que o Brasil tem.

9,5 MILHÕES

O
estudo não quantifica quantos jovens brasileiros poderiam ser
considerados em situação de risco. O governo brasileiro trabalha com um
grupo de 9,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que estão fora da
escola e desempregados. Desses, 4,5 milhões ainda não conseguiram
completar nem mesmo o ensino fundamental.

Esse é o público mais
importante. Se atacarmos esses problemas, podemos alcançar os demais,
disse o secretário nacional de Política para a Juventude, Beto Cury.

COLABOROU RENATA CAFARDO

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