Qualificação, caminho dos jovens para o emprego

jovem observa um computador
Crédito da Imagem: Istock Photos

Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006

Por: Milton Dallari

 

QUALIFICAÇÃO, CAMINHO DOS JOVENS PARA O EMPREGO

O desemprego entre os jovens é uma das maiores mazelas
do Brasil. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, existem
3,5 milhões de pessoas com idade entre os 16 e 24 anos que atualmente
encontram-se fora do mercado de trabalho. Representam 45% do total de desempregados
do País, a maioria sem qualificação. É inegável
que o crescimento pífio de nossa economia impede o surgimento de novos
postos de trabalho. Mas é ainda mais preocupante perceber que não
teríamos mão-de-obra qualificada se estivéssemos crescendo
no mesmo ritmo da China e da Índia.

Se o governo federal deseja promover um crescimento sustentável da
economia, deve começar imediatamente a preparar profissionais para
ingressar no mercado. O primeiro passo seria incentivá-los a pelo menos
permanecer nas escolas, aliviando o caos que tomou conta do setor educacional.
Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises
Sociais) e pelo Instituto Polis revelou que 27% dos brasileiros com idades
entre 15 e 24 anos não trabalham nem estudam. Na maioria das vezes,
esses rapazes e moças ficam à mercê do crime e das drogas.

Nesse momento, não se deve procurar culpados para toda a situação.
Muita coisa mudou nas últimas quatro décadas e, no caso do ensino,
para pior. Digo isso porque até os anos 60 as pessoas tinham ao seu
alcance ensino público de qualidade e podiam sonhar com a ascensão
social e econômica desde que tivessem tempo para estudar. Naquela época,
havia uma oferta de empregos sem precedentes, que atingia desde os pobres
aos mais abastados.

A estagnação econômica e o progresso tecnológico
dos últimos 20 anos culminaram com o desaparecimento de postos de trabalho
e de profissões que antes serviam como porta de entrada para os jovens
em uma empresa. Ocorre que governos passaram e não se deram conta dessas
transformações, que modificaram o sistema de produção
em grandes empresas, refletindo-se na criação de milhões
de postos de trabalho informais, com conseqüências desastrosas
para os cofres públicos e para a previdência social.

O preparo de uma nova geração de trabalhadores deve começar
agora. E não adianta colocar as crianças na escola em período
integral se não houver profissionais preparados para ensiná-los,
ou um espaço adequado para as aulas. Também não basta
investir somente em universidades de alto nível quando grande parte
da população não possui acesso a essa tecnologia. Muitos
programas que hoje oferecem recolocação profissional, ou de
primeiro emprego, geralmente se restringem a buscar uma oportunidade momentânea,
sem a preocupação de orientar o jovem para o desenvolvimento
de uma carreira sólida.

A deterioração do ensino público ainda terá conseqüências
por muitas gerações. O presidente Lula viveu uma infância
difícil, mas teve a oportunidade de aprender o ofício de torneiro-mecânico
no Senai. Mais do que qualquer um, deveria investir recursos e empenho pessoal
para promover a criação de novos cursos profissionalizantes
pelo País. Para isso, poderia até contar com a ajuda dos professores
aposentados, que tiveram de deixar o ensino público por exigência
da própria legislação. Para muitos, Lula poderia unir
o útil ao agradável.

Milton Dallari é consultor empresarial, engenheiro,
advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação
Cesp. O e-mail para contato é o miltondallari@terra.com.br

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