Brasil tem dívida com os jovens, diz governo

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FOLHA DE SÃO PAULO

Caderno: Dinheiro

Domingo, 12 de Outubro de 2006

 

Brasil tem dívida com os jovens, diz governo

Secretário da Juventude afirma que combate à
evasão escolar é prioridade

Governo cita programas voltados para o jovem, mas admite que não resolvem
problema estrutural da baixa escolaridade.

O secretário nacional da Juventude, Beto Cury, admite que o país
tem uma dívida a ser paga com os jovens. Ele afirma que o governo tem
se empenhado em pagar essa dívida, que, segundo ele, é histórica.
Quando discutíamos a Política Nacional de Juventude,
já tínhamos claro que havia um problema grave a ser enfrentado,
As pesquisas já mostravam na época que havia uma dificuldade
de acesso ao mercado de trabalho por parte dos jovens e uma preocupante taxa
de defasagem idade/série na escola. A partir da leitura desse e de
outros dados, fica claro que precisamos pagar uma dívida histórica
do Estado brasileiro com essa população, diz.
Segundo o secretário, a universalização do acesso à
escola na faixa estaria de 7 a 14 anos foi um passo importante, mas agora
é preciso também atacar o problema da evasão escolar.
Uma grande parcela dos jovens já está há algum
tempo fora da escola. Estamos tentando trazê-los de volta, combinando
essa educação formal com uma educação que seja
voltada para o mercado de trabalho, pois sabemos que, para a escola tradicional,
ele não voltará.
De acordo com ele, o governo tem enfrentado esse problema por meio de 17 programas
voltados para a população jovem. Cury citou como exemplo dessas
ações o ProJovem (pra os jovens de 18 a 24 anos que não
concluíram o ensino fundamental) e o ProUni (programa que compra vagas
em universidades privadas para estudantes de baixa renda).

Problema Estrutural

Ele diz reconhecer, no entanto, que essas ações,
ainda que necessárias, não resolvem o problema estrutural da
baixa escolaridade e da inserção no mercado de trabalho.
Do ponto de vista estrutural, na educação, uma das mais
importantes ações do governo é a aprovação
do Fundeb [fundo ainda em discussão na Câmara que amplia o financiamento
do ensino fundamental via Funfef para a educação infantil e
o ensino médio]. Além disso, quando o governo faz distribuição
de livros didáticos para o ensino médio e se compromete a criar
um piso nacional dos professores, está investindo na qualidade,
diz.
Na outra ponta a criação de postos de trabalho para jovens-,
Cury aponta como necessário um crescimento econômico mais consistente,
da ordem de 5% ao ano. Nossa economia, agora, já tem as bases
para realizar esse crescimento de forma sustentável.

Estudantes buscam se qualificar para estrear
a carteira de trabalho

Com seis anos de estudo e 16 de idade, Jociel Sena dos Santos
enfrente na pele as dificuldades de ingressar no mercado de
trabalho por conta da baixa escolaridade. Ele espera ansioso para estrear
a carteira profissional.
Parei de estudar por duas vezes em razão de problemas familiares.
Agora, estou correndo atrás do prejuízo, diz.
Durante o dia, Santos busca, em curso de serigrafia na Fundação
Jovem Profissional, qualificar-se. À noite, retomou os estudos em um
curso supletivo.
As empresas pedem segundo grau completo [ensino médio] e experiência
de seis meses. Ou você tem isso no currículo ou tem de se sujeitar
a salários bem baixos e a bicos, sem registro.
Tiago Palma da Silva, 17, cursa o último ano do ensino fundamental
e espera que as aulas de informática o ajudem a construir uma rede
de relacionamentos. Ter uma boa network é
fundamental para aumentar minhas chances. É isso que pretendo fazer
com as aulas de digitação, Excel e Word que faço.
(CR)


Desemprego atinge todas as classes sociais

O prejuízo que a baixa escolaridade causa na inserção
do jovem no mercado de trabalho é mais grave quando se percebe que
o desemprego hoje atinge de forma mais acentuada os jovens de todas as classes
sociais.
Segundo o Dieese, os jovens são hoje 46% dos desempregados, apesar
de representarem apenas 25% da população economicamente ativa.

Um estudo do economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, mostra também
que esse quadro vem se agravando: em 1995, o desemprego atingia, 13,9% dos
brasileiros entre 16 e 17 anos. Em 2004, chegou a 24,2%
Uma extensa pesquisa feita com 8.000 jovens pelo Ibase e pelo Instituto Polis
indica também que o desemprego atinge todas as classes sociais, apesar
de ser mais intenso entre os mais pobres.
Entre jovens das classes D e E, as mais pobres, 69,5% procuravam emprego na
época da pesquisa. Entre jovens da classe A e B, esse percentual, ainda
que menor, também era alto: 49,6%.
O relatório da pesquisa apontava que, apesar do aumento da escolarização
dos jovens, não houve aumento proporcional na oferta de empregos.
“A questão do trabalho apareceu nas entrevistas que foram feitas
na pesquisa sempre como primeiro ou segundo item a mais preocupar os jovens
de todas as classes sociais e níveis de escolaridade. Esses jovens
disseram também que havia pouca relação entre o que eles
haviam estudado e o que precisavam para entrar no mercado de trabalho”,
afirma Patrícia Lânes, pesquisadora do Ibase.

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