Avanço do ensino superior é insuficiente

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FOLHA DE SÃO PAULO

Caderno: Dinheiro

Domingo, 12 de Outubro de 2006

 

Avanço do ensino superior é insuficiente

Apesar do aumento de vagas no Brasil, proporção
dos adultos que se formam é inferior à de países como
Chile e Coréia do Sul

O mesmo quadro insatisfatório da qualificação
entre jovens de 15 a 25 anos se repete quando se analisa a faixa etária
de 25 a 29. Tabulações da Pnad feitas pela Folha para esse grupo
mostram que só 8% já concluíram a educação
superior e outros 9% ao menos estudam ou estudaram nesse nível.
Trabalhando com a hipótese -remota- de que todos os que ainda estão
estudando ou ao menos já freqüentaram uma universidade consigam
se formar, isso projetaria para o futuro uma taxa de 17% da população
com ensino superior. Esse avanço seria suficiente apenas para colocar
o Brasil hoje no mesmo patamar do México, país em que 16,4%
de toda a população adulta tem educação superior.

O que torna mais preocupante esse número é que essa geração
de 25 a 29 anos foi uma das primeiras a se beneficiar da forte expansão
recente do ensino superior brasileiro. De 1995 a 2005, a Pnad mostra que o
número de estudantes nesse nível de ensino aumentou 175% (de
1,8 milhão para 4,9 milhões).
Foi uma expansão significativa, mas insuficiente. Hoje, o percentual
médio de adultos (25 a 64 anos) com nível superior nos países
que fazem parte da OCDE é de 24,1%. Na Coréia do Sul, país
sempre apontado como modelo de avanço educacional, a proporção
é de 29,5%. No Brasil, não passa de 8%. No Chile, é de
13%.

O avanço brasileiro na educação superior foi também
menor do que o verificado entre alguns tigres asiáticos quando se faz
um corte apenas na população entre 25 e 34 anos. Estatísticas
da Unesco comparando 11 nações em desenvolvimento de 1995 e
2002 mostram que a proporção desses jovens adultos com ensino
superior no Brasil aumentou mais do que em vizinhos como Peru, Uruguai e Paraguai.

No entanto, no período comparado, enquanto a proporção
do Brasil variou apenas de 6% para 7%, na Malásia a variação
foi de 8% para 16%, e, na Tailândia, de 10% para 16%.
Cuspe e giz
O presidente do Conselho Nacional de Educação, Edson Nunes,
aponta também uma falha do crescimento do ensino superior brasileiro.
“Se olharmos a experiência de países que conseguiram avançar,
como Coréia, Irlanda ou China, veremos que eles investiram num ensino
superior voltado para as áreas de mais alta tecnologia. Nosso ensino
superior, no entanto, não contribui tanto para alavancar o crescimento
econômico porque sua composição é basicamente de
cuspe e giz”, diz Nunes.
Para ele, no entanto, nem por isso deve-se cogitar a desaceleração:
“O ensino superior não pode parar de crescer, ainda que de forma
errada, porque o estoque de pessoas com esse nível de ensino na população
ainda é ridículo do ponto de vista de uma sociedade que ainda
é essencialmente jovem”.
Francisco de Moraes, gerente de desenvolvimento educacional do Senac-SP, diz
que a melhoria da qualificação da mão-de-obra brasileira
é urgente também para atrair mais investimentos. “Quanto
melhor for a qualificação de nossa mão-de-obra, maior
o potencial do país para responder rapidamente aos investimentos. Se
não há trabalhadores qualificados, o investimento em qualquer
atividade tem que ser duas ou três vezes maior para dar resultado”,
diz.

Na opinião de André Urani, professor do Instituto de Economia
da UFRJ e ex-secretário municipal de Trabalho do Rio, o investimento
na melhoria da escolaridade é importante, mas não pode ser suficiente:
Se quisermos ter uma economia mais competitiva, não há
dúvida de que temos que investir mais e melhor na escolarização.
Mas isso não é garantia de que, onde quer que você esteja,
vai achar um emprego.
Uma das razões para que isso aconteça, segundo Urani, está
na crise das regiões metropolitanas. Se formos hoje a um subúrbio
do Rio ou de São Paulo, encontraremos ali centenas de jovens muito
mais escolarizados do que seus pais, mas que não encontram trabalho.
São regiões que cresceram em função de industriais
que não existem mais ali, diz.
Para ele, esse problema poderia ser amenizado se houvesse mais mobilidade
dessas pessoas para regiões onde há carência de mão-de-obra
qualificada. Temos que pensar em mecanismos que facilitem essa mobilidade
e desinchem as regiões metropolitanas.

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