A pandemia e os bloqueios de verbas afetaram bruscamente a educação e isso tem refletido no mercado de trabalho, principalmente, de estágios
A preparação do jovem no quesito educação, desde o nível básico, é uma base fundamental para a sua jornada profissional. Infelizmente, vemos um grande impacto nessa esfera devido a crise do Covid-19 e, recentemente, o bloqueio de verbas pelo governo federal afetará mais uma vez esse quadro.
Só para a pasta da educação a redução será de R$ 1,6 bilhão. Isso porque houve uma pressão por parte das instituições de ensino, caso contrário, esse montante era para ser diminuído em R$ 3,2 bilhões. Ou seja, prejuízos imensos para a nossa moçada!
Logo, esse cenário tem acentuado a necessidade dos estudantes se dedicarem ainda mais a essa fase e, principalmente, por conta própria. Afinal, nela se desenvolvem características significativas para o mundo corporativo e sem a estrutura e apoios corretos fica mais difícil.
Várias habilidades como o raciocínio lógico, uma boa comunicação e a análise crítica são fortalecidas na instrução básica, por exemplo, além de essenciais para o progresso das aptidões comportamentais. Contudo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 69,5 milhões de brasileiros não têm sequer o ensino médio completo. Ou seja, mais da metade da população acima dos 25 anos. Esse número vem crescendo no país, passando de 45% em 2016 para 47,4% em 2018 e 48,8% em 2019.
Ainda, a transição do fundamental para o médio acentua-se aos 15 anos para 14,1%, logo, quase dobra em relação à faixa etária anterior com 8,1%, aos 14 anos. Isso se intensifica a partir dos 16 anos, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais. Uma informação chocante, pois isso afeta, inclusive, a competitividade no mercado de trabalho.
O cenário é preocupante!
Sobretudo, isso evidencia a desigualdade social! Afinal, os menos favorecidos já não terminam o médio e, assim, também não conseguem seguir uma carreira proveitosa. Logo, com essas complicações no contexto educacional, isso se potencializa ainda mais.
Segundo estudo do Instituto Semesp, os graduados têm 54% menos de chance de ficarem desempregados em relação a quem tem apenas o médio ou fundamental completo. A formação ajuda, é claro, mas não é suficiente se não tiver qualidade. Temos visto milhares de jovens reprovando nos processos seletivos por conta de um simples português.
Nesse sentido, as conjugações verbais ou uma habitual redação de e-mail, tornam-se impeditivos e até um fator desclassificatório para muita gente, atualmente. Sendo assim, os candidatos estão tendo diversas dificuldades para conquistarem até mesmo suas vagas de estágio, as quais não exigem experiência.
O estágio como aliado
Vale ressaltar: as empresas também são importantes instrumentos de ensino. Por isso, uma oportunidade de atuar nessa modalidade é muito valiosa. Além do mais, só é possível estagiar quem está regularmente matriculado no nível médio, técnico, superior, nos dois anos finais do ciclo fundamental do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e pós-graduação/MBA. Logo, é uma ponte para manter os indivíduos estudando.
O formato é diferente de emprego (regime CLT) e, assim, não gera vínculo empregatício. Por isso, inclusive, é bom para as companhias, as quais ficam isentas de encargos trabalhistas, tais como 13º salário, ⅓ sobre férias, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e eventual multa rescisória. Esses proveitos foram criados para facilitar a admissão desse público tão necessitado de uma chance para o início profissional.
Esse é um grande incentivo, inclusive, para evitar a evasão escolar, a qual tem aumentado assustadoramente nos últimos anos devido a pandemia. Veja só: conforme o Censo Escolar, divulgado em maio, Indaiatuba se destacou com quase quatro vezes mais jovens fora das salas de aula em relação ao período antes da crise sanitária. A média foi de 8,2%, com ênfase para o segundo grau com 10,5%.
De uma perspectiva ainda maior, já são 50 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos fora das classes, consoante a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Educação, de 2019. Ou seja, tem muita gente fora dos cronogramas escolares e isso reflete também nos negócios.
Aposte no conhecimento
Todavia, na contramão desse contexto, o mercado pede cada vez mais por especializações da nossa moçada. Por isso, o ensino a distância (EAD) é uma boa alternativa para driblar essa conjuntura. Afinal, continuando o aprendizado, a juventude consegue manter ou iniciar um estágio, mesmo durante essa instabilidade, por exemplo.
Como falamos, a preparação desde a alfabetização é um caminho crucial para desenvolver competências e maestrias indispensáveis para o universo empresarial. Então, fazer cursos virtuais extracurriculares podem ajudar a expandir os horizontes e fortalecer o currículo (CV), por conta própria e sem sequer sair de casa.
Essa é uma maneira, por exemplo, de buscar soluções para minimizar os efeitos em todos os cenários. A educação tem um papel estratégico, pois somente ela é capaz de transformar esse cenário brasileiro. Portanto, é preciso se atentar e movimentar as forças do país em direção a isso.
Mantenhamos a esperança
No fim de setembro de 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) divulgaram o relatório “Covid-19 e desenvolvimento sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação” sugerindo 55 medidas para potencializar a instrução no pós-pandemia, tais como: priorizar a reabertura de escolas com segurança, conectar todas as crianças e adolescentes à Internet até 2030, garantir renda básica universal, etc.
Algumas coisas em andamento nesse projeto tiveram de dar passos para trás devido ao aumento de casos da doença novamente, mas é uma esperança! Permaneçamos expectantes na recuperação desse panorama com o amparo da vacinação e mantendo as medidas de proteção necessárias. Dessa forma, aceleramos esse processo.
Carlos Henrique Mencaci é presidente da Abres – Associação Brasileira de Estágios